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2007-02-06
Em estudo publicado em janeiro na revista Science, cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e de centros nos Estados Unidos concluíram que o tamanho das unidades de conservação na Amazônia é mais importante do que se pensava: reservas com até 100 hectares perdem metade das espécies de pássaros em até 15 anos.

O artigo, cujo autor principal é o biólogo Gonçalo Ferraz, do Inpa, foi o último produto do projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), que gerou mais de 400 artigos, além de 115 teses e dissertações. Agora, a equipe se prepara para a nova fase do trabalho relacionado a pássaros. Os objetivos são testar os dados obtidos, identificar as espécies mais suscetíveis ao isolamento e à redução da área florestal e desenvolver tecnologias para o monitoramento das aves na mata, com formas de amostragem mais eficientes.

De acordo com Ferraz, o PDBFF, que é uma parceria entre o Inpa e o Instituto Smithsonian, nos Estados Unidos, tem o objetivo de quantificar as mudanças no ecossistema da floresta tropical na região de Manaus, que ocorrem à medida que a floresta é fragmentada. A base de dados do projeto foi desenvolvida a partir de centenas de excursões feitas em 23 localidades no período de 1979 até 1993.

“Na primeira fase da pesquisa pretendíamos entender a velocidade com que as espécies desaparecem em diferentes tamanhos de fragmentos florestais. O trabalho envolveu uma série de inovações metodológicas e, ao analisar estaticamente a presença das espécies, produzimos uma série de previsões de ocorrência e de probabilidade de extinção. Agora, vamos testar essas previsões”, disse Ferraz.

Os cientistas analisarão gráficos e informações obtidas na fase anterior, identificando as características das espécies mais suscetíveis ao isolamento e ao tamanho da área. “Fizemos, por exemplo, a previsão de que o uirapuru de garganta preta deveria ocorrer entre 10% e 20% das manchas de 1 hectare na mata contínua. Vamos testar os dados comparando a estimativa da ocorrência com a previsão”, explicou o biólogo.

As principais conclusões da fase anterior foram que os fragmentos pequenos perdem espécies com muita rapidez e que, embora o isolamento seja relevante, o tamanho da área protegida é muito mais prejudicial. Observou-se que, de 55 espécies analisadas, metade não foi afetada pelo isolamento, mas sofreu a ação da dimensão da área. O estudo foi o primeiro a acompanhar aves em áreas de tamanhos diversos – de 1, 10 e 100 hectares – de mata contínua e fragmentada.

“Pudemos montar um quadro bem completo, porque os fragmentos, ilhados em áreas desmatadas desde a década de 1970, quando o projeto começou, permitiram o monitoramento antes mesmo de as áreas terem sido alteradas. É um verdadeiro laboratório na mata”, declarou Ferraz.

O cientista explica que, até agora, as pesquisas compararam o ritmo de desaparecimento das espécies nas áreas isoladas e na mata contínua de modo geral. Na próxima fase, os dados sobre os fragmentos serão comparados com áreas da mata contínua de tamanho semelhante.

“É uma forma de dar conta da heterogeneidade da floresta. Quando espécies presentes na região estão faltando num fragmento, é possível que a floresta não tenha resistido ao isolamento. Mas também há a possibilidade de que a espécie já se distribuiu, antes da fragmentação, de forma desigual, segundo exigências ambientais específicas da mata contínua”, disse o cientista.

A segunda fase da pesquisa envolve uma equipe de quatro pessoas, incluindo um engenheiro e três biólogos. “A previsão de duração é de dois anos. O projeto tem apoio da Fapeam [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas]”, disse Ferraz.

Nova metodologia de monitoramento
Um dos objetivos da nova pesquisa é mudar a metodologia para o monitoramento das aves na mata. O método utilizado no projeto desde 1979 para o estudo da avifauna foi o de redes de neblina: séries de redes são instaladas na floresta, os pássaros capturados são catalogados, identificados com anilhas e soltos em seguida.

Para Gonçalo Ferraz, a nova técnica possibilitará a detecção de mais espécies, com maior abrangência e mais rapidez. “A amostragem por audição pode ser mais rápida e eficiente para certos fins. Vamos montar e testar um sistema de gravação autônomo com o menor custo possível, combinando equipamentos de vários graus de sofisticação. O sistema será programado para gravar em horários determinados”, afirmou.

O pesquisador conta que o principal desafio técnico em relação ao equipamento será seu isolamento contra a umidade. O sistema será composto por microfones omnidirecionais e gravadores eletrônicos de MP3. “Vamos instalá-los em caixas impermeáveis e fazer testes. Outra dificuldade é que os pássaros cantam num período curto do dia e a instalação do equipamento num ambiente como a floresta amazônica é um verdadeiro quebra-cabeça”, disse.

A nova metodologia poderá ajudar os cientistas a contornar um dos principais problemas dos levantamentos: as espécies que estão presentes num trecho estudado, mas não são registradas nos relatórios por falha de detecção.

“Quando se trabalha com aves no Cerrado ou em campos abertos, a maior parte dos contatos é visual. Um binóculo basta. Mas, na Amazônia, o contato é auditivo, o que agrava o problema de detecção”, disse o pesquisador do Inpa.
(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 06/02/2007)

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