Povos de terra e água: a comunidade pesqueira Canto do Mangue, Canguaretama (RN)
2007-02-06
Tipo de trabalho: Dissertação de Mestrado
Instituição: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP)
Ano: 2004
Autora: Márcia Regina da Silva
Contato: marcregina@yahoo.com.br
Resumo:
Esta dissertação tem o objetivo de analisar as mudanças ocorridas nas condições de vida da população humana, na comunidade Canto do Mangue em Canguaretama (RN), e as possíveis relações com a introdução da carcinicultura a partir de 1980. Foram utilizadas técnicas de pesquisa qualitativa (análise documental, entrevistas e observações in loco) e quantitativa (análise de tendência central, dispersão e correlação). Constatou-se que as alterações ocorridas no espaço local estão associadas às pressões ocasionadas por fatores de ordens externa e interna, como a implantação e expansão dos projetos de carcinicultura, que levaram ao avanço da especulação imobiliária e intensificaram o desmatamento das áreas de manguezais ao longo do estuário do rio Curimataú/Cunhaú, contribuindo para o abandono da agricultura de subsistência nessa comunidade, além de estar levando também ao abandono da pesca artesanal, por conseguinte, a perda dos saberes da tradição aplicados na realização dessa atividade. Verificou-se, ainda, que as alterações no uso do território e dos recursos ameaçam a biodiversidade e têm contribuído para a redução dos estoques pesqueiros do município de Canguaretama e, conseqüentemente, do Canto do Mangue, sobretudo o estoque de caranguejo-uçá (Ucides cardatus). Os resultados obtidos permitiram concluir que a produção em larga escala numa economia de mercado, como se constitui a carcinicultura, desconsidera a busca de equilíbrio nas configurações territoriais. Assim, as perturbações ambientais decorrentes da carcinicultura têm conseqüências de dimensões sócio-culturais, afetando diretamente o modo de vida dos moradores do Canto do Mangue. As empresas de camarão têm absorvido parte dos pescadores que estão deixando a atividade pesqueira. No entanto, o baixo nível de escolaridade associado à idade são fatores que deixam muitos deles fora do quadro de funcionários dessas empresas. Portanto, há necessidade de se criar condições que possibilitem o desenvolvimento da carcinicultura sem colocar em risco a sustentabilidade da região.