Cristalino: Retrato da riqueza em fauna e flora da selva brasileira
2007-02-06
Rios, nascentes, córregos e baías intocados, em meio a florestas e afloramentos rochosos. Jardins nativos repletos de bromélias e orquídeas de rara e diversa beleza. Lajes e mirantes naturais, de onde se avista um impressionante mosaico formado por inúmeras tonalidades de verde.
Essa concentração de belezas - incrustada no extremo-norte de Mato Grosso, entre os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo – abriga uma das mais ricas amostras da biodiversidade amazônica, entre espécies raras, ameaçadas de extinção e outras que sequer foram descritas pela ciência.
Na semana em que a Justiça restabeleceu em caráter liminar o traçado original do Parque Estadual do Cristalino – reduzido pela Assembléia Legislativa por meio da lei 8.616 (ver matéria) – a reportagem do Diário visitou o epicentro da maior polêmica ambiental dos últimos anos.
Ao longo de quilômetros de trilhas pela mata fechada ou em trechos de barco pelo sinuoso rio Cristalino, a reportagem conheceu de perto um imenso e ainda inexplorado potencial para a conservação, a pesquisa e o ecoturismo. Constatou, porém, que a unidade segue desprotegida e vulnerável.
O único posto de fiscalização, erguido às margens do Teles Pires, foi abandonado, depredado e sofreu saques. A gerência e a fiscalização rotineira da área de 184 mil hectares estão entregues à responsabilidade de um único servidor da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema).
Os trabalhos para a produção de um plano de manejo, peça-chave para a implantação da unidade, foram interrompidos há dois anos, sem conclusão. E, por conta da ameaça ainda presente da redução, o parque corre o risco de perder recursos do Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa).
A partir de hoje, uma série de reportagens irá relatar essa história de avanços e retrocessos iniciada em junho de 2000, quando o decreto nº 1.471 estabeleceu a primeira demarcação da unidade, então com 66,9 mil hectares – traçado que, no ano seguinte, seria ampliado em 118 mil hectares.
Também trará o depoimento de ambientalistas e pesquisadores do Brasil e do exterior, que incluem o Cristalino entre as mais significativas unidades de conservação brasileiras, pela diversidade de ambientes, alto número de espécies endêmicas – que só ocorrem ali – e o estado de conservação da maior parte de seus ambientes.
Nesta semana, o mundo inteiro admitiu, em inédito consenso, o impacto da ação devastadora do homem sobre o clima e o futuro do planeta. É neste cenário que a salvaguarda do Parque Estadual do Cristalino ganha ainda mais urgência. É o compromisso por um desenvolvimento que respeite a vida e o futuro.
(Por Rodrigo Vargas, Diário de Cuiabá, 04/02/2007)
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=277781