Proibido na agricultura brasileira desde o primeiro dia deste ano, o brometo de metila — usado principalmente para matar pragas nas plantações de flores — começa a ser substituído por uma tecnologia inovadora, desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Trata-se de uma espécie de aquecedor solar, onde é possível esquentar a altas temperaturas a terra que será colocada nos vasos, matando larvas de insetos, ervas daninhas e fungos.
Com isso, dispensa-se o uso do pesticida, que é pelo menos 60 vezes mais prejudicial à camada de ozônio que os gases CFC e ainda pode causar câncer.
O aparelho, chamado “coletor solar”, será distribuído neste ano pelo Ministério do Meio Ambiente a até mil produtores de flores de Maranhão, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Ele é formado por uma espécie de caixa, com tubos de metal, onde é inserida a terra que depois será usada na plantação. Dentro desses tubos, a temperatura pode chegar a 70ºC, suficiente para matar organismos nocivos às flores. “Estamos implementando uma tecnologia inovadora que poderá até ser replicada em outros países”, afirma Ruy de Góes, diretor do Programa de Qualidade Ambiental da Secretaria de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente.
A produção de flores e plantas ornamentais no Brasil, de acordo com o governo federal, abrange 5 mil hectares e envolve mais de 2.500 produtores. Quase 72% da área plantada está em São Paulo (3,6 mil hectares). O setor é o principal usuário do brometo de metila. Em 1992, o pesticida foi incluído na lista do Protocolo de Montreal de substâncias destruidoras do ozônio da atmosfera, e foi determinado que seu uso deveria ser proibido a partir de 2015 nos países em desenvolvimento.
O aparelho criado pela Embrapa é voltado a pequenos produtores, que plantam as flores em vasos dentro de estufas. Para aqueles que fazem a cultura em campos abertos, é necessário o uso de caldeiras de vapor, uma tecnologia argentina que também utiliza o calor para matar as pragas. Movidas a lenha, elas funcionam como um tipo de arado que se move pela terra que está sendo preparada. O vapor gerado pela queima da lenha é distribuído pelo solo por um dispersor e abafado por uma lona, que mantém a terra aquecida. As caldeiras já começaram a ser distribuídas pelo Ministério do Meio Ambiente. Ao todo, serão entregues 27 aparelhos para associações e cooperativas de produtores até a metade de 2007.
Apesar de o prazo para o Brasil eliminar o uso da substância vencer apenas em oito anos, a proibição na agricultura foi antecipado pelos ministérios do Meio Ambiente e da Saúde para 1º de janeiro deste ano. Mas o país ainda enfrenta um grande desafio para erradicar o brometo de metila, já que ele também é muito aplicado em madeiras destinadas à exportação. “Ele é usado como esterilizante e é fumigado em tudo que tenha madeira para evitar que as pragas venham de um país para outro”, conta Góes. “Mas ainda não existe uma alternativa, e isso é uma preocupação de todos os países”.
A distribuição de caldeiras e painéis solares custará US$ 2 milhões, que serão repassados ao governo federal por meio do Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal, por meio da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido). Como essa agência da ONU não possui escritório no Brasil, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) está apoiando a realocação dos recursos.
(Por Talita Bedinelli,
Agência PNUD, 02/02/2007)