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2007-02-05
O uso em Portugal de liquens, organismos vivos resultantes da associação entre fungos e algas, para fins científicos teve sua maior aplicação em Sines (distrito de Setúbal, sudoeste), para determinar os índices de poluição na região - relacionados com a atividade industrial local, em pleno litoral do Alentejo.

Um estudo promovido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional - Alentejo (CCDR - Alentejo) e realizado por uma equipe da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa criou um sistema de monitoramento com liquens em uma área de 30 quilômetros por 50.

De acordo com os relatórios do projeto, batizado de SinesBioar e que contou com a colaboração do CMRP - Grupo de Meio Ambiente do Instituto Superior Técnico, o método adotado começou pela seleção de 73 locais distribuídos pela região e pela posterior avaliação da diversidade de espécies de liquens em cada um deles.

Este processo baseia-se no princípio de que o aumento de poluição leva à redução do número destes organismos, que são afetados pela absorção de gases atmosféricos e morrem quando as concentrações dessas substâncias são elevadas.

Deste modo, a redução da população de liquens é sinônimo de agravamento da má qualidade do ar.

Mas os "casais" de fungos e algas absorvem e retém os elementos da atmosfera, e uma análise química mais aprofundada indica quais os poluentes existem em cada local, e também suas quantidades.

Enxofre, chumbo, mercúrio e cádmio

No caso do SinesBioar, indicam resultados disponibilizados na Internet, foram avaliados teores de elementos como enxofre, mas também a presença no ar de chumbo, mercúrio e cádmio.

Após o tratamento dos dados reunidos, os pesquisadores da Faculdade de Ciências concluíram que em toda a área abrangida pelo perímetro da zona industrial de Sines e em uma faixa no sentido sudoeste há uma concentração de poluentes e partículas, com destaque para a presença de teores de ferro, alumínio, cobalto e titânio.

Se o uso de liquens para avaliar a poluição do ar está ainda dando seus primeiros passos em Portugal, em outros países como Itália, Suíça e Alemanha é quase que obrigatório fazer uso de liquens na hora de monitorar a poluição, em estudos sobre impacto ambiental.

Os cientistas chamam esses organismos de "sentinelas e vigilantes da natureza", segundo a pesquisadora e professora universitária Cristina Branquinho, que comentou um caso em que o uso de liquens como termômetro da poluição foi fundamental: o desastre nuclear de Chernobyl, na Ucrânia.

"Os estudos sobre radioatividade foram feitos com liquens", explicou.
(Agência Lusa, 04/02/2007)
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