O governo uruguaio confirmou na sexta-feira (02/02) que aceitou iniciar um diálogo direto com a Argentina. O país, no entanto, especificou que só negociará quando forem suspensos os bloqueios das pontes que ligam os dois países.
- Aceitamos iniciar o diálogo, mas a negociação só acontecerá após o fim dos bloqueios. Será uma troca de pontos de vista, de interesse comum sobre o desacordo, mas sem assumir compromisso algum, porque este só virá quando não houver bloqueios – disse o secretário-geral da Chancelaria uruguaia, José Luis Cancela.
O diplomata é o representante do presidente Tabaré Vázquez no conflito, criado pela instalação de uma fábrica de celulose da empresa finlandesa Botnia no município uruguaio de Fray Bentos, em frente à costa argentina.
O ministro de Assuntos Exteriores espanhol, Miguel Ángel Moratinos, anunciou que Argentina e Uruguai tinham chegado a um "entendimento para iniciar um diálogo direto" com o apoio da Espanha. Moratinos explicou que os representantes pessoais dos presidentes de Argentina e Uruguai concordaram em se reunir na Espanha, sem data definida, para abordar todos os aspectos da questão enfrentada pelos dois países.
No entanto, Cancela assinalou que vai conversar na Espanha de forma direta, algo que há meses que não é alcançado, mas reiterou que a negociação não ocorrerá até que as fronteiras estejam livres.
Os moradores de Gualeyguachu, na margem argentina, bloqueiam intermitentemente há um ano, e ininterruptamente desde novembro, uma das três pontes sobre o rio Uruguai, fronteira natural entre os dois países. Os habitantes das cidades argentinas de Colón e Concordia também fazem bloqueios parciais, interrompendo assim todos os acessos que ligam os dois países.
A empresa espanhola Ence também pretendia instalar uma fábrica de celulose em Fray Bentos, mas finalmente decidiu situá-la em outra zona do litoral uruguaio, já no rio da Prata, onde a distância entre as duas margens é dez vezes maior.
O conflito chegou até mesmo aos tribunais internacionais. Buenos Aires denunciou Montevidéu na Corte Internacional de Justiça de Haia por suposta violação do Tratado do rio Uruguai, por ter autorizado a instalação da fábrica sem um acordo prévio.
Posteriormente, a Argentina pediu à Corte que impedisse cautelarmente a construção da fábrica, solicitação que foi negada. Além disso, o Uruguai pediu ao alto tribunal que exigisse à Argentina o fim dos bloqueios nas fronteiras entre os dois países, solicitação que também foi rejeitada.
Anteriormente, o Tribunal Arbitral do Mercosul - formado por Brasil, Argentina Paraguai e Uruguai - opinou que os bloqueios violavam as normas do grupo, que estabelecem a livre circulação de bens e serviços pela região.
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ClicRBS, 02/02/2007)