A produção agrícola brasileira terá uma queda de 25% caso se concretize a previsão do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC) para o clima mundial. Em relatório divulgado em Paris, o IPCC estima que a temperatura mundial vai aumentar entre 1,8º C e 4º C até o fim do século.
Segundo Hilton Pinto, diretor do Centro de Pesquisas Meteorológicas Aplicadas em Agricultura, da Unicamp, se houver uma elevação de 3º C na temperatura, haverá uma perda agrícola em torno de 60% na cultura de café e 39% da soja (valores calculados levando em consideração a área potencial atual de produção). Ainda no café, o prejuízo está estimado entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões anuais, levando em consideração o valor atual de cerca de R$ 280 a saca.
A pecuária também será fortemente prejudicada. Os efeitos do aquecimento global nos animais incluem redução drástica na produção de leite, aumento no número de abortos e, nas aves, a produção de ovos sem casca.
Em estudo ainda não publicado, ele compara as áreas de plantio brasileiras entre a década de 1930 e hoje, período no qual houve um aumento entre 2º C e 3º C das temperaturas mínimas do Estado de São Paulo. Enquanto a produção cafeeira migrou do noroeste de São Paulo para regiões mais frias, culturas que suportam bem o calor, como a seringueira, passaram a se desenvolver com rapidez nas proximidades de Ribeirão Preto.
O aumento ocasional de 4º C da temperatura no Estado de São Paulo, em setembro de 2004, também indica como poderá se comportar a pecuária. Na época, houve prejuízos de US$ 50 milhões. Com o calor excessivo, a produção de leite chegou a cair pela metade em apenas quarto dias, e o número de abortos teve um aumento elevado, principalmente nos suínos - cerca de 50%.
Hilton Pinto acredita que com uma elevação de 1º C na temperatura, haverá uma elevação entre 5% e 15% na quantidade de chuvas. "Só que não são chuvas agrícolas, são temporais, como os vistos recentemente em Minas Gerais", diz ele.
No Sul, a tendência é que aconteçam cada vez mais tornados, como os de Santa Catarina em 2005. Já no Nordeste, a agricultura vai sofrer porque o aumento da evaporação causado pelas temperaturas maiores reduzirá os níveis de água dos lençóis freáticos.
(Por
Amanda Rossi,
O Estado de S. Paulo, 02/02/2007)