Uma empresa argentina desenvolveu um motor que funciona parcialmente com água, ajudando a combater o aquecimento global por meio da redução da queima de combustíveis fósseis.
O novo motor, da firma Solmi, funciona 30% com água e 70% com o combustível gasóleo, e já está sendo utilizado em alguns ônibus da cidade de Rosário, cerca de 300 quilômetros ao noroeste de Buenos Aires, e em uma embarcação quebra-gelo que partiu recentemente rumo à Antártida. O "Patagonia Ice Lady", da Associação de Exploração Científica Austral, é a única embarcação do mundo que funciona com um motor híbrido.
Além da economia representada pela substituição de combustíveis fósseis por água, o novo motor polui menos o meio ambiente e ajuda nos estudos sobre o aquecimento global - um dos objetivos da viagem foi justamente a análise do impacto do fenômeno.
Os irmãos Sergio e Víctor Solmi, inventores do novo motor, criaram o produto devido principalmente a sua "preocupação com o meio ambiente". Outro motivo, explicou Sergio Solmi à agência de notícias EFE, é que ambos consideram que "em um litro de água há tanta energia como em três de gasolina".
A origem do revolucionário modelo foi uma pergunta que eles se fizeram há cinco anos: "Por que um carro anda mais rápido quando chove?"
"Antigamente, a água era utilizada para aumentar por alguns minutos a potência dos motores, mas agora nosso único objetivo é a economia de energia", contou Sergio. "Lendo velhos livros de mecânica, descobrimos a prática esquecida de acrescentar água para aumentar a potência. Esta técnica, utilizada durante a Primeira Guerra Mundial, caiu em desuso com o surgimento das turbinas", disse.
A tecnologia híbrida desenvolvida pelos irmãos argentinos permite obter uma combustão com menos emissões de gases do efeito estufa e reduzir o consumo do hidrocarboneto em até 20%. "O que pretendemos é fazer uma contribuição para combater os gases do efeito estufa", afirmou o inventor.
O dióxido de carbono (CO2) representa atualmente 82% do total das emissões de gases do efeito estufa. Nas cidades, 98% delas provêm dos automóveis.
"Com este projeto, nenhum veículo é substituído, mas os já existentes adquirirão uma tecnologia que aumentará o número de quilômetros que podem percorrer com um litro de gasóleo", explicou.
Os irmãos Solmi, que também são pilotos de automobilismo, fazem parte de uma das pequenas empresas familiares mais antigas do país, fundada em 1889 na cidade de San Pedro, província de Buenos Aires.
A tecnologia dos argentinos, segundo os inventores, está sendo estudada por algumas empresas automotrizes e até mesmo por dirigentes do automobilismo esportivo internacional, que indicaram recentemente que a Fórmula 1 pode vir a utilizar motores híbridos.
A invenção teve um de seus antecedentes na Espanha há 30 anos, quando o empresário catalão Arturo Estévez Varela criou um motor que funcionava exclusivamente com água.
Naquele momento, a invenção não foi patenteada nem convenceu grande parte da comunidade científica, que não acreditava que um motor que utilizasse água pudesse produzir energia suficiente para funcionar.
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O Estado de S. Paulo, 03/02/2007)