A temperatura média do planeta subirá de 1,8ºC a 4ºC até 2100, provocando um aumento do nível dos oceanos de 18 a 59 cm, inundações e ondas de calor mais freqüentes, além de ciclones mais violentos durante mais de um milênio.
As conclusões foram anunciadas nesta sexta-feira em Paris pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), da ONU (Organização das Nações Unidas).
O comitê do IPCC engloba centenas de cientistas e representantes de 113 países.
O documento de 21 páginas --o mais importante a respeito do aquecimento global-- traça um quadro preocupante sobre o futuro do planeta caso não sejam adotadas as medidas adequadas. De acordo com os especialistas do IPCC, o aquecimento do planeta se deve, com 90% de chance, às emissões de dióxido de carbono provocadas pelo homem.
O IPCC afirmou ainda que as emissões passadas e futuras de CO2 continuarão contribuindo para o aquecimento global e a elevação do nível dos mares durante mais de um milênio, levando em consideração sua permanência na atmosfera.
Se os países não adotarem os meios para reduzir a poluição da atmosfera, a temperatura média pode aumentar até 6,4%.
Este desajuste modificará totalmente as condições climáticas: provocará ondas de forte calor, as inundações serão cada vez mais freqüentes, os ciclones tropicais, tufões e furacões provavelmente serão mais intensos, os recursos de água potável diminuirão e a elevação do nível do mar pode provocar o desaparecimento de algumas ilhas e superfícies férteis.
As mudanças obrigarão milhares de pessoas a abandonarem suas casas, e o número de refugiados do clima será superior ao de refugiados de guerra, alertam alguns especialistas.
Encontro
A reunião na capital francesa de 500 especialistas do grupo, criado em 1988 pela ONU e a Organização Meteorológica Mundial com o objetivo de servir de mediador entre os cientistas e os governantes, é a conclusão de mais de dois anos de trabalho.
De acordo com a organização ecológica Greenpeace, o informe do painel intergovernamental aciona o 'sinal de alerta' necessário para impulsionar os governos à ação.
'Se o último relatório do IPCC em 2001 nos fez despertar, este é um sinal de alerta. A boa notícia é que nossa compreensão do sistema climático e do impacto humano melhorou, a ruim é que nosso futuro parece perigoso', afirma a organização em um comunicado.
Diante das previsões desalentadoras, os cientistas esperam que a comunidade internacional apresente uma resposta vigorosa e unida que implique a continuidade do Protocolo de Kyoto, destinado a reduzir as emissões de dióxido de carbono, cuja primeira fase expira em 2012.
No entanto, este protocolo ainda não foi ratificado pelos Estados Unidos, que é o maior poluidor mundial.
Danos
O chefe do Comitê Internacional de Mudanças Climáticas, Rajendra Pachauri, qualificou o relatório como um documento "muito impressionante", que vai além dos "estudos anteriores".
Segundo Susan Solomon, cientista do governo dos EUA, "não há dúvidas de que o aumento de gases poluidores é causado pelas atividades humanas".
De acordo com o documento, não importa o quanto a civilização reduza a emissão de gases, o aquecimento global e o aumento do nível dos oceanos vão perdurar por séculos.
"Não é algo que possa ser detido. Nós teremos que conviver com isso", afirmou Kevin Trenberth, diretor de análises climáticas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica de Boulder, no Colorado, à Associated Press.
"Estamos criando um planeta diferente. Em cem anos, teremos um clima diferente", afirmou.
Criado pela ONU em 1988, o comitê divulga relatórios a cada cinco ou seis anos. Os documentos são divulgados em fases -- este é o primeiro de quatro previstos para este ano.
(
Folha online, 02/02/2007)