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2007-02-05
O aquecimento global provocado pela emissão de gás carbônico (CO2) tende a intensificar chuvas, ondas de vento, de frio e de calor, explicou na sexta-feira (02/02) José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em entrevista à Agência Brasil. "A circulação atmosférica tende a acelerar em condições de aquecimento”, disse ele, o que aumenta a quantidade e a intensidade dos choques entre as massas de ar de diferentes temperaturas, ocasionando eventos atmosféricos mais fortes.

A alta emissão de CO2 é uma das principais causas da elevação da temperatura na terra entre 1,8 e 4 graus até 2100, segundo o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), divulgado hoje em Paris. Esse grande volume de CO2 presente na atmosfera já garante que “o aquecimento [global] vai continuar, de qualquer forma”, independentemente se a emissão desse gás parar de crescer, alertou Marengo.

Projeções para as diferentes regiões do planeta serão divulgadas pelo IPCC no mês de abril. Marengo adiantou que, além do crescimento do nível do mar, que é um evento global, o maior impacto ambiental na América Latina poderá ser na Amazônia. “[A floresta] poderia até sumir, sendo substituída por outro tipo de vegetação, como o Cerrado”, segundo o pesquisador do Inpe. Aumentariam as secas no nordeste do Brasil e as ocorrências de furacões em todo o país.

A implementação do Tratado de Kyoto, o uso de energias renováveis e um plano de reflorestamento são algumas sugestões para redução de danos. “São medidas de longo prazo que custam muito, mas maior seria o prejuízo”, disse Marengo.

Estudo do Inpe mostra conseqüências para o Brasil
O Brasil sofrerá sérias mudanças climáticas nos próximos 50 anos, se não forem tomadas medidas de preservação do meio ambiente, como a redução dos índices de desmatamento e de liberação de gases causadores do efeito estufa.É o que aponta o estudo "Cenário climático futuro: avaliações e considerações para a tomada de decisões", coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e lançado em dezembro do ano passado. O trabalho foi financiado pelo Ministério do Meio Ambiente e teve apoio do Banco Mundial.

O estudo leva em conta dois cenários: um pessimista e outro otimista. No primeiro, estima-se que o desmatamento e a poluição continuem na proporção em que ocorrem atualmente e que o Protocolo de Kyoto não seja seguido. Nesse caso, nos próximos 50 anos, a temperatura na Amazônia poderia sofrer aquecimento entre 6 e 8 graus e redução da chuva em 20%.

O cenário otimista considera uma sociedade ecologicamente correta, onde seriam reduzidas a poluição e o desmatamento e seguido o Protocolo de Kyoto. O aumento de temperatura na região amazônica não seria evitado, porém seria menor, entre 4 e 5 graus e a redução das chuvas ficaria entre 10% e 15%.

O Nordeste seria outra região gravemente afetada. De acordo com o estudo, o clima da região pode passar de semi-árido para árido, que se assemelha ao clima de deserto, sem chuvas. A alteração teria, inclusive, conseqüências sociais, como a migração da população local, aponta o estudo. Em outras regiões, como a Sul, deve haver mudanças na distribuição das chuvas durante o ano, o que pode resultar em problemas para a agricultura.

Em dezembro, o coordenador do estudo, José Antônio Marengo, explicou que para amenizar o cenário futuro é preciso evitar a queimada de biomassas, reduzir o desmatamento e oferecer incentivos governamentais para as empresas que poluem menos. Segundo Marengo, que é pesquisador do Inpe, a população também pode colaborar usando menos os veículos e consumindo menos água.
(Por Gabriel Corrêa, Juliane Sacerdote e Yara Aquino, Agência Brasil, 02/02/2007)

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