Siderúrgica aposta no hidrogênio para substituir combustíveis fósseis
2007-02-01
A Villares Metals, maior produtora de aços especiais não planos de alta-liga
da América Latina, acaba de instalar em sua usina de Sumaré (SP) uma célula
a combustível a base de hidrogênio. A nova fonte de energia será empregada
em caráter experimental para substituir um gerador movido a diesel. O
objetivo da empresa, primeira a instalar o equipamento para avaliação no
Brasil, é se preparar para o fim da disponibilidade dos combustíveis
fósseis, que deve ocorrer em, no máximo 30 anos, e para o início da chamada
Era do Hidrogênio.
De acordo com Celso Barbosa, gerente de Tecnologia da Villares Metals, o
objetivo é conhecer esta tecnologia e se antecipar no que se refere à sua
aplicação nos processos da empresa, além de observar integralmente todos os
cuidados relativos ao meio ambiente. "A célula a combustível a hidrogênio
não gera emissões aéreas, não produz ruído. O hidrogênio combina-se com o
oxigênio do ar produzindo água puríssima como sub-produto. Vale ressaltar,
ainda, que o gás hidrogênio é excepcionalmente seguro, pois é mais leve que
o ar, se dissipa muito rapidamente, não se acumula no chão, e tem baixa
densidade se comparado com o propano", explica.
A avaliação da aplicação da célula a combustível, instalada para atender o
Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Villares Metals irá alimentar o
Laboratório de Ensaios de Fluência, que exige elevada confiabilidade do
sistema de fornecimento de energia elétrica, pois suas máquinas operam
continuamente por centenas de horas. A célula a combustível sob avaliação,
poderá ser utilizada na substituição da energia elétrica fornecida pelo
atual no break ou pelo gerador a diesel instalado para atender
especificamente àquele laboratório. A célula a combustível em avaliação pode
produzir até 5 kW de potência, o que possibilita uma autonomia para 10 horas
contínuas de operação com o volume disponível de hidrogênio (seis cilindros
de 41 l cada).
Célula a Combustível
Tecnologia desenvolvida nos anos 90, já saiu das bancadas de laboratórios e
agora começa a fase de avaliação de sua utilização em diversas atividades,
como em serviços, pesquisa e indústrias. A célula a combustível é um
dispositivo de conversão de energia eletroquímica; isto é, da mesma forma
que uma bateria, fornece tensão DC (corrente contínua) convertendo energia
química em calor e eletricidade. No entanto, ao contrário de uma bateria,
que é limitada a uma carga armazenada, a célula a combustível é capaz de
gerar energia enquanto houver combustível disponível, no caso o hidrogênio
(H2).
A célula produz energia a partir da reação eletroquímica que ocorre ao
contato do hidrogênio no anodo, permeando a membrana polimérica de troca
iônica, que contém diversos metais nobres, como platina e ouro, entre
outros, e que é mais conhecida pela sigla PEM (Polimer Exchange Membrane), e
finalmente há o contato com o oxigênio (do ar) formando água. Nesse processo
os átomos de hidrogênio emitem elétrons que irão gerar uma corrente no
circuito elétrico. É um dispositivo de conversão de energia eletroquímica
que transforma hidrogênio e oxigênio em eletricidade, calor e água. É uma
bateria recarregável que, ao invés de usar eletricidade para ser
recarregada, utiliza hidrogênio.
Este tipo de célula a combustível tipo PEM usando hidrogênio para geração de
energia elétrica também já está sendo pesquisada para uso em celulares. Já é
utilizada em automóveis (carros conceito) e outras aplicações, entre elas
notebooks. Ideal para salas de cirurgia, centros de processamento de dados e
outras áreas que sofreriam demasiado com um eventual corte de energia, assim
como para geração de energia em pontos remotos.
Entre os vários aspectos positivos da célula a combustível, podemos citar
também o seu baixo custo de manutenção, exige apenas uma revisão a cada 3
anos, período bastante inferior ao que se necessita para a manutenção de um
gerador a diesel, que exige verificação diária, revisão mensal e recursos
humanos especializados.
A célula a combustível deverá ser utilizada em larga escala em automóveis a
partir do ano 2010, pois o hidrogênio, como combustível, é uma das fontes
alternativas ao petróleo mais promissoras. Um exemplo é a nova geração de
carros da Honda FCX movidos a hidrogênio, que deverão ser lançados em 2009.
A Honda equipará o carro com três motores elétricos, sendo o principal de 80
kW, devendo alcançar uma eficiência energética, isto é o aproveitamento da
energia do combustível, de 60% muito superior aos atuais motores de
combustão interna que alcançam no máximo 24%.
"Ainda no caso do Brasil o etanol, o álcool feito da cana de açúcar, poderá
se tornar a principal fonte de hidrogênio, através de reformadores, onde o
álcool é volatilizado e sua molécula é quebrada em alta temperatura (da
ordem de 700°C), gerando hidrogênio e dióxido de carbono (CO2). Esse último
gás é eliminado na atmosfera, fechando o ciclo de retorno às plantas, como
fonte renovável e limpa", diz Celso Barbosa.
(Por Sabrina Domingos, Carbono Brasil/Envolverde, 31/01/2007)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=27320&edt=1