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2007-02-01
Como uma miragem que se renova a cada mudança de prefeito, reacendeu-se recentemente, no município de Cachoeira do Sul (RS), a esperança de reativar a hidrovia do Rio Jacuí. Na Prefeitura local, é forte a crença na força de duas empresas processadoras de matérias-primas rurais.

A primeira é a Granol, originária de Goiás, que já está operando as antigas instalações industriais da Centralsul, onde processa soja e promete produzir biodiesel. A outra é a Aracruz, cuja fábrica de celulose em Guaíba, em vias de ser ampliada, projeta embarcar em Cachoeira toda a madeira que a empresa produzir ou comprar no centro do Estado, onde vem incentivando o plantio de eucalipto.

Entre os estudos da Aracruz, figuram os projetos da construção em Cachoeira de um picador de madeira e de um novo terminal de embarque dessa matéria-prima -- em toras ou parcialmente processada. Nunca, nos últimos 40 anos, o município esteve tão perto do sonho da volta da navegação.

"Para nós, da Prefeitura, o melhor aspecto do projeto da Aracruz não é nem o plantio de eucalipto, mas a própria retomada da hidrovia", diz o vice-prefeito Hilton de Franceschi, que coordena os projetos estratégicos da administração local. Empresário no ramo de óptica, ele acredita que a existência de um porto ativo pode atrair novos investimentos para o município, situado a cerca de 200 quilômetros de Porto Alegre, tanto por hidrovia quanto por rodovia ou ferrovia.

O porto de Cachoeira é o ponto mais ocidental da hidrovia do Jacuí, que liga o centro do Estado à capital e outras cidades litorâneas. Segundo a história, a própria cidade foi fundada por imigrantes que, seguindo rio acima, não conseguiram ultrapassar as corredeiras do Fandango e, nas primeiras décadas do século XIX, estabeleceram-se na margem esquerda do rio, nascido no planalto, perto de Cruz Alta.

A navegação foi o principal meio de ligação da cidade com a capital até 1883, quando o transporte ferroviário chegou ao vale do Jacuí e avançou para a fronteira. Trens e barcos mantiveram-se bastante ativos em Cachoeira até a década de 1960, quando os caminhões assumiram a maior parte das cargas.

A ponte sobre o Rio Jacuí, construída em Cachoeira no final dos anos 1950 -- na época da expansão das grandes rodovias federais -- incluiu uma eclusa para facilitar a navegação acima de Cachoeira, mas essa facilidade praticamente não teve uso por causa da decadência paulatina do transporte hidroviário no médio Jacuí.

Hoje, surpreendentemente, essa hidrovia aparece não apenas nos planos estaduais de incremento da navegação fluvial e lacustre, mas também nos projetos federais para solução de gargalos da logística de transporte de mercadorias entre as regiões produtoras e os portos de exportação. De fato, há diversos investimentos previstos na dragagem dos canais de acesso a alguns portos. No Rio Grande do Sul, os mais citados são os portos de Rio Grande, Pelotas, Porto Alegre e Estrela (Rio Taquari).

Também faz parte do portifólio de obras listadas pelo estudo RumoS 2015, coordenado pela Secretaria de Economia e Planejamento do Rio Grande do Sul, um grande terminal portuário em Guaíba, onde a Aracruz já mantém um cais para operação de barcaças que transportam celulose para o porto de Rio Grande.

Nesse documento estratégico, pouco conhecido e parcamente divulgado no apagar das luzes do governo de Germano Rigotto (2003-2006), a hidrovia do Jacuí é citada como a opção mais barata de transporte de carvão mineral e madeira. Falta viabilizá-la, o que não depende apenas da existência de um boa plataforma de embarque e desembarque de mercadorias, como acontece em Cachoeira. Para a retomada de uma hidrovia, como também ficou demonstrado no recente Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo governo federal, é preciso haver uma articulação com outros modos de transporte e promover sua inserção na rede de produção e distribuição de mercadorias.

Se no passado foi um importante pólo de embarque de arroz para Porto Alegre e outras praças do Brasil, o porto de Cachoeira pode renascer das cinzas com o beneficiamento da soja e a expansão da eucaliptocultura, duas das últimas apostas da economia gaúcha.
(Por Geraldo Hasse, especial para o JornalJÁ e AmbienteJÁ, 01/02/2007)

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