Objetivos do Milênio: Malawi desconhece a existência dos ODM
2007-02-01
A maioria da população do Malawi desconhece a
existência dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, apesar de neste país as
conseqüências da aids, do analfabetismo e da fome serem dramaticamente evidentes.
Assim indicam as entrevistas feitas ao acaso pela IPS nas ruas das duas principais
cidades do país, a setentrional Blantyre e Lilongwe, a capital, no norte do país. A
conclusão é que os ODM não são conhecidos, nem seu significado. A falta de
conhecimento se deve ao fato de “serem domínio exclusivo de tecnocratas e poucas
pessoas mais. Quando mencionados na função pública, pouco os valorizam”, disse o
jornalista Ephraim Munthali.
“Ouvi alguma coisa no rádio há pouco tempo, mas depois nada mais. É importante?”, diz
Cosmas Ntonongoli, comerciante de Lilongwe. Judith Banda, recepcionista em uma
auto-escola em Blantyre, o centro comercial do país, confessou à IPS que não tem idéia
do que são os ODM. Quando lhe foi explicado que a iniciativa inclui o compromisso dos
governos de reduzir pela metade a pobreza até 2015, em relação a 1990, Banda respondeu
que tinha seus próprios planos a respeito. “Não me importa se o mundo tem ODM. Já
estou fazendo a minha parte. Além de trabalhar aqui no escritório, compro e vendo
rouba de Zâmbia e o dinheiro que consigo é muito importante para minha família”,
afirmou.
Os ODM incluem educação primária universal; promover a igualdade de gênero; reduzir a
mortalidade infantil em dois terços e a materna em três quartos; combater a expansão
do HIV/aids, da malária e de outras doenças; assegurar sustentabilidade ambiental e
gerar uma sociedade global para o desenvolvimento entre o Norte industrializado e o
Sul em desenvolvimento, sempre em relação aos dados de 1990.
Rumbani Nyirenda, professor de uma universidade privada de Blantyre, responsabilizou
pela ignorância os meios de comunicação que, disse, não transmitem à população
assuntos de alcance nacional. “A imprensa só escreve sobre os ODM quando um ministro,
o presidente ou outras personalidades os mencionam”, disse Nyirenda. “Não existe uma
iniciativa da mídia para se referir ao assunto. Vocês (os jornalistas) só gostam de
escrever sobre política”, afirmou Alabi Mbenje, morador em Kawale 2, um distrito de
Lilongwe.
O capítulo de Malawi do Instituto de Mídia da África Setentrional (Misa) admtiu que os
esforços da imprensa para sensibilizar a população sobre os ODM são medíocres. O Misa
é uma organização não-governamental dedicada a fomentar o desenvolvimento dos meios de
comunicação através da capacitação e de outras atividades. O principal obstáculo é a
falta de comunicação entre o governo e as organizações da sociedade civil que levam
adiante programas sobre os ODM, segundo o diretor nacional do Misa, Innocent Chitosi.
“Os que estão à frente das campanhas dos ODM raramente comunicam à imprensa seu
significado”, disse Chitosi.
Para o responsável da não-governamental Rede de Justiça Econômica de Malawi, Mavuto
Bamusi, o principal problema na compreensão dos ODM é que o conceito sofreu o impacto
de um contexto malauí. Essa organização, que defende os direitos sócio-econômicos,
traduz os documentos relativos aos ODM para chichewa, a língua local. “A tradução os
colocará em ligação com as pessoas”, disse Bamusi. Os ativistas temem que os avanços
de Malawi para alcançar os ODM estejam adormecidos nos últimos seis anos, desde que os
governos assumiram o compromisso.
“Estamos muito longe de cumprir essas metas. Há escassez de alimentos ano após ano. A
média de vida em Malawi caiu por causa do HIV/aids”, disse Ulemu Munthali, membro do
Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para os ODM. Essa organização pressiona o governo
para que elabore políticas e projetos que impulsionem o cumprimento dos Objetivos. “O
governo anterior não se preparou bem para cumprir as metas. O de Bingu Wa Mutharika
deseja fazê-lo e o cancelamento da dívida foi uma fase de definição”, disse a
porta-voz do Ministério da Informação, Patricia Kaliati.
Kaliati se referia ao cumprimento de Malawi do programa Países Pobres Altamente
Endividados, em setembro de 2006, depois do qual o Fundo Monetário Internacional e o
Banco Mundial cancelaram grande parte da dívida externa do país, de US$ 2,9 bilhões. O
cancelamento da dívida libera recursos escassos para melhorar os cuidados com saúde,
educação e infra-estrutura rodoviária em Malawi. Depois, o Banco Central elaborou um
programa de redução gradual das taxas de juros, que a longo prazo fomentará uma
cultura de poupança e investimento, afirmam analistas.
Kaliati argumentou que o governo não pode atingir sozinho os ODM e precisa do apoio do
setor privado. Nesse sentido, destaca-se um operador de redes móveis pan-africano que
desde 2002 doa material pedagógico, com livros e outros elementos necessários às
escolas, como parte de seu programa de responsabilidade social.
(Por Frank Phiri, IPS, 31/01/2007)
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