Estudo sugere que África reestatize energia e saneamento
2007-02-01
A privatização dos setores de saneamento e energia na África Subsaariana aumentou as
desigualdades no acesso aos serviços e fez com que a região tivesse um fraco
desempenho nas metas de água e esgoto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. É o
que conclui um estudo divulgado pelo Centro Internacional de Pobreza (um braço do PNUD
com sede em Brasília), que sugere que o poder público retome o controle desses
serviços.
O trabalho aponta que a atuação das empresas privadas diminuiu os subsídios às
tarifas, o que prejudicou a população de baixa renda, e redirecionou os financiamentos
das agências internacionais, que reduziram o apoio ao investimento público em
infra-estrutura e elevaram os empréstimos para empresas privadas.
O estudo, intitulado Privatização dos Serviços Básicos na África Subsaariana: Impacto
nos ODM, analisa os efeitos da privatização dos setores de energia e saneamento entre
1990 e 2003. Para os autores — o diretor em exercício do Centro de Pobreza, Terry
McKinley, e a consultora inglesa Kate Bayliss — a atuação das empresas privadas foi
“amplamente falha”. “Ao contrário das expectativas, os investidores privados abriram
mão de investir nos serviços na região. Foi custoso para os governos incentivá-los a
investir. Entretanto, o foco dos investidores na recuperação dos custos não atendeu a
objetivos sociais, como redução da pobreza e promoção da igualdade”, aponta o
documento.
A pesquisa afirma que a concessão para o setor privado — realizada por pressão dos
países doadores — fez com que os investimentos do Banco Mundial na infra-estrutura da
região caíssem 50% entre 1993 e 2002, “com grande parte [do dinheiro] sendo destinada
à preparação das empresas para a privatização”. Enquanto os financiamentos da agência
para empresas públicas de energia caíram de US$ 2,9 bilhões em 1990 para US$ 824
milhões em 2001, os repasses a investidores privados subiram de US$ 45 milhões para
US$ 687 milhões.
Sem os subsídios dos governos e com os tímidos investimentos das empresas, os setores
de saneamento e energia avançaram vagarosamente na década de 90. Entre 1990 e 2004, a
proporção de pessoas com acesso à água na região subiu de 48% para 56% — a meta dos
Objetivos do Milênio é chegar a 74% até 2015. No setor energético, o quadro foi o
mesmo. O percentual de habitantes com acesso a eletricidade passou de 16% para 24%
entre 1990 e 2002. Segundo o estudo, mais de 500 milhões de pessoas vivem sem energia
elétrica na região.
Para reverter esse cenário, o estudo recomenda que os países da região retomem o
controle dos serviços públicos nos dois setores e que as nações doadoras e agências
internacionais redirecionem os investimentos infra-estrutura para o setor público.
Além disso, o trabalho sugere que, na aplicação dos recursos, os gestores priorizem a
redução da pobreza e cobrem tarifas acessíveis à população de baixa renda.
(Por Alan Infante, PNUD, 31/01/2007)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=27306&edt=7