Castanha-do-brasil: madeira altamente energética
2007-01-30
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2003 foram produzidas mais de 30 toneladas de castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa) no Norte do país. Estima-se que tenha sido gerado o dobro de resíduos, cerca de 60 toneladas, normalmente jogados no lixo ou utilizados para artesanato após a colheita do fruto.
O cenário serviu de motivação para que técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) buscassem nova destinação para os resíduos, por meio de um estudo comparativo com outros tipos de madeira utilizados pela indústria para a geração de energia, como o eucalipto e a acácia.
O trabalho, conduzido por Paulo Roberto Moura, pesquisador do Laboratório de Celulose e Carvão Vegetal do Inpa, faz parte do projeto “Fruto da castanha do Brasil: potencialidade de uso como fonte de matéria-prima para a rede energética do Estado do Amazonas”, do Inpa.
“Devido ao alto valor nutritivo, a semente comestível é a parte mais conhecida da castanheira. Mas poucos sabem que seu fruto é um material de formas arredondadas que guarda uma série dessas sementes dentro”, disse Moura à Agência FAPESP. “Na extração, o trabalhador rural corta o fruto da planta e retira as sementes para vendê-las, deixando o resto espalhado pela floresta. E é justamente esse material fibroso e lenhoso o foco de nosso estudo.”
Os pesquisadores fizaram análises biométricas para conhecer a eficiência energética dos resíduos do fruto, dados até então desconhecidos, para efeito de comparação com informações da literatura de outras espécies de madeira. O estudo levou em conta características essenciais para um produto ser considerado energético, como densidade básica, densidade energética e materiais voláteis.
A principal conclusão é que os resíduos da castanha têm elevado potencial de aproveitamento para a geração de energia, tanto in natura, na forma de lenha para as usinas térmicas, caldeiras e olarias, quanto em subprodutos, como carvão para companhias siderúrgicas.
“Comprovamos que é possível agregar valor a materiais que hoje são jogados fora, de modo a gerar renda aos trabalhadores rurais com a coleta e revenda dos resíduos da castanha e contribuir para diminuir o desmatamento de espécies usadas para gerar energia”, afirma Moura.
Mais energia
Durante as análises de comparação da densidade básica com outras espécies madeireiras utilizadas para fins energéticos, o resíduo do fruto apresentou um desempenho de 838 kg/m³, valor maior que o do Eucalipto saligna (476 kg/m³) e da Acácia mangiun (596,1 kg/m³), e mais que o dobro do Eucalipto grandis (391 kg/m³).
“A densidade básica nada mais é do que o peso da madeira. Isso significa que a mesma quantidade do resíduo da castanha tem mais material sólido por metro cúbico do que o Eucalipto grandis e o Eucalipto saligna, espécies de reflorestamento tradicionalmente plantadas no Sudeste para a produção de carvão”, disse o pesquisador do Inpa.
Outra vantagem dos resíduos da castanha é sua elevada densidade energética – a quantidade de calor contida em um determinado volume –, que é de 3.620.211 kcal/m³. “A energia armazenada pela lenha do resíduo é 1,93 vezes maior que a do Eucalipto grandis, por exemplo”, aponta Moura. O valor é superior também ao da Acácia mangiun (2.868.433 kcal/m³) e do Eucalipto saligna (2.327.164 kcal/m³).
Com relação ao material volátil, a pesquisa concluiu que o carvão resultante dos resíduos apresentou a menor porcentagem, 9%, quando comparado com o Eucalipto grandis (19%) e com a Acácia mangiun (21%).
“Em tese, se a porcentagem de material volátil é baixa, o índice de densidade energética é alto. Conseqüentemente, como foi verificado com o resíduo da castanha, o material leva mais tempo para queimar durante o processo de geração de energia, aumentando a eficiência do ciclo energético”, explica.
Segundo Paulo Roberto Moura, os próximos passos do estudo envolverão análises de viabilidade econômica para a geração de energia elétrica em comunidades distantes dos centros urbanos na região Norte, a partir do calor gerado pelos resíduos do fruto da castanha-do-brasil.
(Por Thiago Romero, Agência FAPESP, 29/01/2007)
http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?data[id_materia_boletim]=6658