Avanço do mar ameaça o Recife
2007-01-30
Recife e Rio de Janeiro são as duas cidades costeiras do Brasil que mais sofrerão com a elevação do nível dos oceanos. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o mar avançará de 28 a 58 centímetros, até o fim do século. O assunto está na pauta de grupo de trabalho do IPCC reunido em Paris, na França, até quinta-feira.
“Além de muito plano, o Recife é atravessado por rios”, justifica Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São Paulo. Ele é um dos 13 brasileiros que integram o IPCC, com mais de dois mil cientistas ao redor do mundo. Nobre se refere aos Rios Capibaribe e Beberibe. “Se o nível do mar sobe, o dos rios também se eleva”, justifica o pesquisador.
Ele destaca que a cidade já enfrenta enchentes. “A elevação do nível do mar apenas agravará a situação”, afirma o engenheiro, ligado ao Centro de Previsão e Estudos Climáticos (CPTEC-Inpe). O problema, uma conseqüência do aumento da temperatura global, poderá ser piorado por outras variações climáticas em escala planetária. “Imagine uma tempestade em cima do oceano, aliada a um vento forte soprando na direção da costa e a muita água de chuva trazida pelos rios”, descreve Nobre.
A inclusão do Recife nos relatórios do IPCC tem origem num estudo iniciado em 1989 por equipe da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O professor Claudio Freitas Neves, um dos autores do trabalho, estimou que uma elevação de um metro no nível do mar sucumbiria bairros como Brasília Teimosa, na Zona Sul. Segundo ele, o aumento é de 25 milímetros por ano no Recife e de 20 milímetros por ano no rio de Janeiro. “Na época, recomendamos a instalação de um marégrafo, que mede a altura das marés, para o acompanhamento do problema”, conta Neves.
O professor diz que a erosão da praia nos litorais do Recife e de Jaboatão dos Guararapes acentua o impacto da elevação do nível do mar. “A areia, na maré alta, é removida da praia e depositada por trás dos recifes de arenito. Quando a maré baixa, a água não ultrapassa os recifes, por isso os sedimentos não retornam”, esclarece Neves.
O pesquisador do Laboratório de Geofísica e Geologia Marinha da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Valdir Manso alerta que os bairros às margens do Capibaribe serão os mais atingidos. “É que o rio, em razão da elevação do nível do mar, vai ampliar a área de enchente”, explica.
(Jornal do Commercio - PE, 30/01/2007)
http://jc.uol.com.br/jornal/2007/01/30/not_218202.php