Na década de 70 movimentos sociais ligados à igreja começaram a difundir novas propostas para o cultivo de alimentos. Além de agregar renda à propriedade, eles passaram a trabalhar na contramão do que até então era proposto. Em vez de utilizar substâncias que proporcionassem frutas, verduras e legumes visualmente atraentes, propuseram que a agricultura passasse a ser desenvolvida sem uso de substâncias químicas. Trata-se da agroecologia ou produção orgânica.
A técnica se difundiu e hoje apresenta um crescimento médio de 40% ao ano no Brasil. O consumo também aumentou em nível mundial, principalmente na Europa, onde as plantações desse tipo seguem se expandindo motivadas por estudos que apontam os benefícios de uma alimentação saudável. Grandes redes de supermercados também estão se especializando nessa prática.
Em Santa Cruz do Sul, no Nacional, há inclusive um setor específico onde são vendidos 15 vegetais diferentes cultivados sem adubos químicos ou agrotóxicos.
Mais caros que os convencionais eles têm boa aceitação junto aos consumidores. A diferença de preço, de acordo com o gerente Leonardo Poeppl, se deve aos benefícios que trazem para a saúde. “São alimentos cultivados em fazendas especializadas que possuem inclusive um selo que identifica o sistema de produção”, explica. A tendência, segundo ele, é de que a oferta desses produtos seja ampliada dentro dos próximos meses.
SAÚDE – Outros locais que são referência na venda de agroecológicos são a feiras do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (Capa), localizadas na Rua Thomaz Flores, 805, e na Avenida João Pessoa, 947, em Santa Cruz do Sul. Nelas é possível encontrar uma variedade de frutas, verduras e legumes produzidos por associados da Cooperativa Regional de Agricultores Familiares Ecologistas (Ecovale).
Os orgânicos também estão presentes entre os alimentos industrializados. Há café produzido no Mato Grosso e a erva-mate ecológica que vem de Vale do Sol. Sucos, açúcar, arroz, feijão e ovos completam a relação de produtos livres de componentes químicos. Com uma diversidade tão grande, o Brasil já se tornou exportador de hortigranjeiros e derivados que não têm substâncias químicas em sua composição.
De acordo com o engenheiro agrônomo do Capa, Jair Staub, o diferencial desses alimentos está na composição orgânica. Embora menores que os fornecidos pela lavoura convencional, eles possuem maior quantidade de nutrientes e vitaminas. “São mais saudáveis e trazem os elementos que são benéficos à saúde humana”, salienta.
E no que depender de estímulo as lavouras estarão cada vez mais saudáveis. Atualmente existem pelo menos 400 famílias que já trabalham a produção orgânica em suas propriedades no Vale do Rio Pardo.
Uma lavoura ecologicamente correta
“Produzir orgânicos requer dedicação, paciência e persistência. Quem adota esse sistema busca mais do que uma fonte de renda. Quer também mais saúde para si e para sua propriedade.” A frase é do agricultor Francisco Fritzen, 52 anos. Morador de Quarta Linha Nova Baixa, há dez anos ele trocou a fumicultura pelo cultivo de hortigranjeiros e não se arrepende dos resultados.
Em sua propriedade não entra nenhum tipo de agrotóxico nem adubo de laboratório. O controle das pragas é feito por meio de substâncias curiosas. Urina de gado, além de afastar os insetos, contribui para a correção do solo. Caldas feitas com chás dos mais variados tipos também são aplicadas como defensivos. A adubação das plantas é com esterco e folhas decompostas naturalmente.
As ervas daninhas, que em plantações convencionais são removidas com herbicidas ou capina, também estão presentes entre os canteiros de Fritzen. Elas contribuem para garantir o equilíbrio do solo e assim promovem maior controle de pragas. “Tudo é feito de maneira planejada. Assim consigo uma produção mais saudável”, explica.
Três vezes por semana ele participa das feiras do Capa representando o Núcleo de Agricultores Ecologistas de Santa Cruz do Sul. Ao lado do colega Valdomiro Schuster, de Linha Seival, vende os alimentos para seus clientes que já se tornaram amigos. Embora com preços mais altos que os produtos tradicionais, eles vêm obtendo um bom rendimento. “Estamos conseguindo vender bem, mas o mais importante é contribuir para que nossos clientes consumam produtos saudáveis”, disse.
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Gazeta do Sul, 30/01/2007)