O princípio da célula de combustível a eletrólito polimérico, que serve para gerar energia a partir de hidrogênio, parece simples até para quem faltou nas aulas de química do colégio. O gás hidrogênio (formado por dois átomos) passa por uma fina membrana de material plástico, do tamanho de uma folha de papel sulfite. Os átomos se dissociam e sofrem uma reação eletroquímica. Cada átomo cede um elétron para a tal membrana e, ao atravessá-la, encontra o oxigênio, formando água pura. Os elétrons deixados na membrana formam uma corrente elétrica.
Empilhadas e interligadas, as membranas plásticas formam a célula de combustível, uma bateria recarregável cujas dimensões são parecidas com as de um frigobar. Um aparelho desses, de 5 kW de potência, foi instalado no início do mês no centro de pesquisa da Villares Metals em Sumaré (SP) e substitui em caráter experimental um gerador movido a diesel. A empresa tomou a medida para cumprir as metas de seu controlador, o grupo austríaco Böhler-Uddeholm, que planeja banir o uso de combustíveis fósseis dentro de 30 anos. Está preocupado com a escassez de petróleo e com questões ambientais. É a primeira subsidiária do grupo siderúrgico a adotar a célula combustível.
Três vezes por semana, os delicados equipamentos do laboratório funcionam alimentados por essa célula, em intervalos que duram de 15 a 45 minutos. "Não houve necessidade de adaptar os aparelhos à nova fonte de energia", afirmou ao Valor Celso Barbosa, gerente de tecnologia da Villares Metals. Os testes devem durar até março, quando a empresa decide se adquire o equipamento, cedido pela americana Tyco. O executivo calculou que a célula custará entre US$ 30 mil e US$ 50 mil.
A célula chega a ser três vezes mais cara que um gerador movido a diesel com potência equivalente, mas oferece diversas vantagens. Não gera emissões de poluentes, é silencioso, suas baterias exigem manutenção apenas uma vez por ano e é uma fonte confiável. Além disso, de acordo com Barbosa, na falta de energia elétrica o equipamento entra em operação automaticamente, ao contrário dos geradores a diesel, que precisam de um tempo para que o combustível seja aquecido. Para efeitos de comparação, de todo o diesel usado num gerador, apenas 24% é convertido em energia. No caso da célula combustível, o aproveitamento atinge níveis entre 60% e 70%.
Hoje, um quarto da energia consumida pelas unidades da Böhler-Uddeholm é proveniente de combustíveis fósseis (gás natural e outros derivados de petróleo). A maior parte dos processos da companhia é intensiva no uso de energia elétrica, tanto no Brasil quanto no exterior.
Segundo Barbosa, não há possibilidade, por enquanto, de utilizar a tecnologia em processos que demandam mais energia. A produção de células desse porte ainda não é economicamente viável. Apenas entre 2009 e 2010 a indústria automotiva deverá lançar seus primeiros modelos movidos a hidrogênio. Toyota, Honda, GM e Daimler Chrysler estão entre as montadoras que desenvolvem a tecnologia.
A Villares Metals tem capacidade de produção de 120 mil toneladas anuais de aço bruto e 80 mil toneladas anuais de produtos acabados, nas unidades de Sumaré e Sorocaba (SP). No fim de 2004, a empresa foi vendida pelo grupo espanhol Sidenor (controlador da Aços Villares) à austríaca Böhler-Uddeholm.
A siderúrgica de aços de alta liga é uma das primeiras indústrias a adotar uma célula combustível no Brasil, de acordo com Amadio Cremonesi, diretor de vendas da Tech Solutions, um dos representantes da americana Tyco no Brasil. Ele afirmou que outras empresas e a Infraero já mostraram interesse em efetuar testes com as baterias, que seriam utilizadas como no-breaks. Nos últimos três anos, a Tyco já distribuiu mais de mil células apenas nos Estados Unidos.
"A empresa faz estudos para criar células mais potentes", afirmou Cremonesi. Operadoras de celular como a Claro e a Vivo estão entre as pioneiras no país na adoção da célula combustível. Elas funcionam no lugar de gerador em estações radiobase.
(Por Patricia Nakamura,
Valor Econômico, 29/01/2007)