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2007-01-29
A partir desta segunda-feira, 1.500 especialistas do mundo inteiro vão se reunir em Paris para discutir o futuro da Terra. Nesse encontro, será apresentado o mais recente mapa do aquecimento global - um painel inquietante que o Fantástico antecipa para você. Coisas estranhas aconteceram esta semana. Na terça-feira, o mais teimoso dos líderes políticos mundiais, George W. Bush, disse, em discurso no Congresso, que os Estados Unidos precisam reduzir o consumo de gasolina em 20% nos próximos dez anos.

Para alguém, como ele, que sempre achou que efeito estufa era paranóia de cientistas sem fé, foi um grande passo. Bush só deu essa ordem porque está com medo do aquecimento global. Menos queima de gasolina significa menos gás carbônico, conseqüentemente, menos alimento para o efeito estufa.

O espanto número dois da semana veio no dia seguinte: o aquecimento da Terra foi o assunto principal na abertura do Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos. Prova de que os mais poderosos políticos e executivos do mundo também estão preocupados e a fim de fazer algo. Logo eles, que até pouco tempo atrás achavam que reduzir o efeito estufa era impossível porque afetaria a economia mundial.

Não foi por acaso que Bush e companhia se converteram à causa do aquecimento global bem nesta semana. Nesta segunda-feira, em Paris, começa o painel intergovernamental de mudança climática. Cientistas de todo o mundo vão mostrar o que de fato está acontecendo com nosso clima e por que a Terra deverá ficar mais quente nas próximas décadas e séculos. O Fantástico antecipa agora, com exclusividade, resultados desse relatório.

Em poucas áreas do planeta a temperatura caiu do fim dos anos 70 pra cá. Estas áreas se concentram, basicamente, em partes de alguns oceanos. Isso é uma decorrência, segundo pesquisadores, de mudanças naturais nas correntes marítimas. No restante do globo terrestre, em muitos pontos está mais quente hoje em comparação com a temperatura de 25 anos atrás. Esta é a prova de que o calor está aumentando em praticamente todas as regiões do mundo.

Há áreas em que a temperatura média subiu mais de um grau Celsius. O Brasil não tem informações disponíveis sobre a temperatura na região amazônica, um dos lugares mais ricos e frágeis do planeta. O derretimento das geleiras e das plataformas de gelo é a mais marcante e convincente prova do aquecimento global. Em 20 anos, o Ártico perdeu uma área superior ao estado do Pará em plataformas de gelo. Na Antártica, uma plataforma inteira, chamada Larsen B, se desintegrou em 2002.

A combinação de gelo derretendo e água do mar cada vez mais quente leva, fatalmente, a uma expansão dos oceanos. No relatório internacional sobre aquecimento global, que será divulgado em Paris nos próximos dias, consta uma previsão assustadora: o nível do mar deve subir quase meio metro antes do fim do século. Levando em conta que metade da população mundial vive em cidades costeiras, a perspectiva é assustadora.

Alguns cientistas acreditam que a capa de gelo da Groenlândia está condenada a acabar. Pode demorar séculos, mas o derretimento sem volta já começou. Quando todo o gelo da Groenlândia derreter, o mar vai subir por boa parte do sudoeste da Inglaterra, incluindo Londres. Na Flórida, um aumento de cinco metros no nível do mar deve deixar a cidade de Miami oitenta quilômetros mar adentro.

Esses mesmos cinco metros a mais de água praticamente tirariam do mapa metade de Bangladesh, berço de 120 milhões de pessoas. No Brasil, um aumento assim faria com que praias do Nordeste praticamente desaparecessem. Elas perderiam cem metros de areia. As cidades brasileiras mais vulneráveis são o Rio de Janeiro e Recife.

Os cientistas também prevêem que o aquecimento global pode desalojar 150 milhões de pessoas nos próximos 50 anos. Não só a espécie humana corre o risco de ficar sem casa. Um coral de recife é como uma floresta submersa. A quantidade de espécies que abriga é enorme. Toda esta biodiversidade, porém, está ameaçada. A culpa é do aumento da temperatura dos oceanos. A grande barreira de corais da Austrália, com dois mil quilômetros de extensão, é uma das maravilhas do mundo.

Há trinta anos, os corais estavam no seu esplendor. Agora eles não estão mais tão coloridos. Um estranho fenômeno está causando o branqueamento dos corais. Um biólogo se diz preocupado. Nos últimos anos, ele e outros cientistas descobriram que os recifes estão ficando cada vez mais sensíveis à temperatura da água. “Por todo lugar que olho, o que vejo são corais perdendo a cor. Corais que normalmente eram marrons estão ganhando um tom branco brilhante”, conta ele.

Os corais são animais porosos que permitem que as algas vivam dentro deles. O branqueamento acontece porque, quando a água esquenta, as algas abandonam o corpo dos corais. O que sobra é o esqueleto do bicho. “Quando mergulho só enxergo metros e metros de corais totalmente esbranquiçados. É incrível”.

Se a temperatura do mar continuar subindo por muito tempo, as algas não vão voltar. E os corais provavelmente vão morrer. Os australianos têm avaliado o grau de estresse atual dos recifes. Os testes mostram que as algas que ainda restam nos corais estão bem danificadas. Elas foram afetadas pelo calor e pela luz. No ano passado, a barreira da Austrália estava passando por seu terceiro ciclo de branqueamento dos últimos oito anos. Isso está ficando mais freqüente e mais grave.

O gás carbônico que mandamos para a atmosfera faz com que a Terra esquente. A temperatura do mar sobe e os corais passam mal. Mas esse não é o único dano causado pelo inimigo mundial número um do momento. Cerca de metade do CO2 que emitimos não sobe para a atmosfera, ao contrário, desce e é absorvido pelos oceanos. Quanto mais gás carbônico o mar absorve, mais ácido ele fica.

A acidez dos oceanos pode ser fatal para muitas criaturas marinhas. O ouriço do mar, por exemplo, é afetado de duas maneiras. Primeiro porque a acidez da água faz com que sua concha se dissolva. Segundo, porque os materiais de que ele precisa para produzir a concha estão ficando cada vez mais escassos. A estrela do mar pode sofrer do mesmo mal. Como o ouriço, ela vai ter dificuldades para criar seu esqueleto. A alimentação e a reprodução de animais marinhos, como o ouriço e a estrela do mar, vão ficar ainda mais difíceis com o aumento da acidez da água.

Oceanos mais ácidos são uma ameaça não só para uma ou outra espécie, mas para toda uma cadeia alimentar. Os plânctons são organismos que flutuam no mar. Alguns têm tamanho microscópico. Mas eles são tão numerosos, que podem ser vistos do espaço. A acidez tem o potencial de dizimar os plânctons e, assim, acabar com a principal fonte de comida para uma variedade enorme de peixes. Peixes que, por sua vez, são o alimento de milhares de espécies marinhas. Até o maior dos mamíferos do planeta, a baleia, pode ficar sem comida.
(Portal do Fantástico / Rede Globo, 29/01/2007)
http://www.ambientebrasil.com.br/rss/ler.php?id=29184

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