Problemas ambientais estão vinculados à economia e à democracia, dizem as ONGs no Fórum Social Mundial
2007-01-29
Pois, o sétimo FSM encerrou esta tarde calorenta, aqui no Leste da África, com a maciça presença dos africanos de todos os mais de 50 países do Continente negro, e escassa participação de outros países da América Latina e da Ásia. A distância e os altos custos impediram uma maior participação dos militantes do Hemisfério Sul. Este fator se refletiu no menor número de militantes e ativistas anticapitalistas do Hemisfério Sul. Mas não foi um fator negativo. A vibrante e colorida platéia dos africanos foi suficiente para dar um novo sopro de inspiração para todos aqueles que acreditam que, sim, um mundo melhor e possível.
As delegações dos países desenvolvidos do Primeiro Mundo vieram em bom número. No total, estavam presentes em Kasarani, no gigantesco Obi Sports Centre, mais de 50 mil ativistas dos cinco Continentes. E a marcha de encerramento, no Parque da Liberdade, aqui no agitado e moderníssimo Distrito Comercial de Nairóbi, transcorreu sem nenhum incidente de monta, com as tradicionais canções e danças africanas – para nós gaúchos, nenhuma surpresa, dada a forte miscigenação racial de nosso Estado do Rio Grande, e, também do restante do Brasil. Mas vocês deveriam estar por aqui para ver de perto, como este veterano repórter internacional, as bocas abertas de espanto e admiração dos 'branquelas' do Primeiro Mundo, tostados pelo forte Sol queniano, apesar de seus chapéus e protetores qumicos, diante dos meneios e requebradas de nossos irmãos da Mãe Africa.
Mas, a pauta ambiental não encerra por aqui, enquanto os 'grandes' do FSM, reunidos em seus luxuosos hoteis das principais redes internacionais, instaladas aqui em Nairobi, examinam a sua crítica decisão: haverá um Fórum Social Mundial em 2008? Ao que parece, não. A tendência seria, segundo os organizadores do evento que consegui contactar, organizar fóruns por continentes. E, a novidade: segmentados. Ou seja: haverá um fórum sobre água, direitos humanos e privatização do precioso líquido, motivo já em nossos dias das chamadas "guerras da água". Falam que Porto Alegre, em 2008, poderia ser a sede deste fórum, a ser fortemente apoiado pelas organizações católicas e cristãs, com a Cáritas International à frente do evento. E, para 2008, a tendência nesta quinta-feira, por aqui, seria a realização, mais uma vez, de pólos policêntricos. Haveria um na Guatemala, para os ativistas e lutadores sociais da América Latina, Central e do Norte. Mas esta decisão somente será anunciada nestes próximos dias.
Por sua vez, organizações como a sueca Fundação Dag Hammarskjold – em memória do secretário geral das Nações Unidas, morto nos anos 60 em um acidente aereo – apresentou três grandes seminários. Os temas são bem conhecidos dos ecologistas aí do nosso Rio Grande: aquecimento global e a questao do comércio do carbono, da privatização dos bens comuns – como água, energia, entre outros .
Chamou a atenção o seminário do dia 23 (terça-feira), onde os conhecidos ativistas Vandana Shiva, Pat Mooney e Larry Lohman falaram das novas
tecnologias que já estão sendo introduzidas rapidamente e, inclusive, comercializadas pelos países ricos para contra-atacar o aquecimento global. Uma destas novidades e a nano-escala. Diversos cenarios bem próximos, no futuro, incluem a geo-engenharia e seus esforços contra as mudanças globais. Diante de uma maciça platéia de africanos, atônitos e surpresos pela novidades, os três especialistas abordaram temas como a nanotecnologia pode ser um instrumento daninho para a saúde dos seres humanos, incluindo até modificações genéticas nos cidadãos de todo o Planeta Azul. Um alerta e tanto para todos os que se interessam pelos problemas ambientais, tanto pelo lado dos ativistas como para nós, observadores da mídia alternativa.
E, finalmente, os italianos vieram com força para Nairóbi. De um lado, as autoridades federais da Itália e do Quênia firmaram diversos acordos de cooperação técnica e de ajuda econômica. Do outro, ONGs como Terra Futura, apresentaram alternativas para o que consideram ser um futuro justo e sustentável, através de seminários e teleconferências entre os presentes em Nairóbi e os ativistas em Florenca. Eles estão convidando os militantes verdes de todo o mundo para um evento internacional, de 18 até 20 de maio deste ano, em Fortezza da Basso, Florença, Itália, com entrada livre. E dizem os ativistas italianos: "Nossa tarefa é observar o mundo. E concebê-lo como um todo. Devemos viver de maneira mais simples, para que os outros, simplesmente, possam viver". As duas apresentações do evento toscano foram dentro do evento Our Future Earth. Good practices and concrete alternatives for a sustainable World".
Neste artigo final desta cobertura especial da EcoAgência, daqui do Leste da África, não poderia deixar de citar uma jovem canadense, do Quebec. Ela se chama Caterina Milani, e e coordenadora dos programas internacionais do YMCA de Montreal. O lema destes ecologistas do gelido país da América do Norte e este: "Construímos crianças mais fortes, famílias mais fortes e comunidades mais fortes". Os verdes canadenses estão preparando para este ano ainda, lá mesmo em Montreal, um grande evento ambiental. Parece mesmo que as coisas no plano ambiental estão mudando rapidamente. Resta ver se, das palavras e discursos, aqui em Nairóbi, serão realizadas de fato ações concretas em prol de uma Terra menos poluída e menos ameaçada por este fenômeno trágico, que é o aquecimento global e todas as suas conseqüências.
(Por Renato Gianuca, Envolverde, 28/01/2007)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=27202