Os países em desenvolvimento serão as maiores vítimas do aquecimento global e não deveriam ser obrigados a arcar com um problema criado principalmente pelos países ricos, disseram na quinta-feira executivos e especialistas reunidos em Davos.
No encontro realizado nessa estação de esqui da Suíça e do qual participam 2.400 das pessoas mais poderosas do mundo, os líderes das nações emergentes disseram desejar que os EUA e outros países do Ocidente se responsabilizem mais profundamente pelas emissões de gases do efeito estufa.
Esses gases são produzidos principalmente na queima de combustíveis fósseis em fábricas e veículos automotivos. Os dirigentes dos países em desenvolvimento também defenderam seu direito de incentivar seu crescimento econômico, mesmo que isso resulte em um aumento na emissão dos gases indesejados.
"Os EUA, os europeus, os países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) contribuíram, nos últimos 30 a 40 anos, pelas emissões dos gases do efeito estufa muito mais do que nós", disse Rahul Bajaj, presidente da segunda maior fabricante de motos da Índia, a Bajaj Auto Ltd.
As declarações dele foram dadas em um encontro realizado paralelamente ao Fórum Econômico Mundial, em Davos. O também indiano Sunil Bharti Mittal, presidente do grupo de telecomunicações Bharti Enterprises, afirmou que os países em desenvolvimento precisavam de incentivos para reagir às mudanças climáticas.
"Nós, os indianos, que somamos 1 bilhão de pessoas, vamos consumir uma grande quantidade de serviços e de mercadorias responsáveis por criar emissões. Nós vamos precisar de tecnologia e de dinheiro", disse.
Na quarta-feira, dia de abertura do fórum, os participantes elegeram as mudanças climáticas como o problema a ter, provavelmente, o maior impacto sobre o planeta nos próximos anos bem como o problema que os líderes mundiais estão menos preparados para enfrentar.
NA CONTA DOS POBRES
Bárbara Stocking, diretora da organização Oxfam Britain, disse que os países pobres vinham sendo cada vez mais pressionados a limitar o uso de combustíveis fósseis.
Esses países também seriam os mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global, entre os quais chuvas mais irregulares, enchentes e secas que já dizimaram terras férteis e dificultaram a manutenção da agricultura de subsistência em vários pontos da África, bem como no Afeganistão, no Haiti e em outros locais.
"Já constatamos que os efeitos da mudança climática estão atingindo os pobres de forma mais dura e de forma mais rápida", afirmou Stocking, em uma entrevista concedida em Davos, na quinta-feira. A diretora da Oxfam afirmou que esses países, além de precisaram de dinheiro para enfrentar os impactos, tinham também de ter alguma folga para expandir suas indústrias e criar riqueza.
Nicholas Stern, conselheiro do governo britânico para a questão do aquecimento da Terra, concorda com a opinião de que a comunidade internacional precisa ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar o problema. "Não se trata de interromper o crescimento, mas de fazer as coisas de uma forma diferente", afirmou à Reuters Television.
Outros disseram que mecanismos mais rígidos para monitorar as emissões vindas das potências ocidentais -- de longe as maiores fontes dos gases do efeito estufa -- ajudariam a convencer os países emergentes sobre a necessidade de agir.
"Poderíamos, talvez, criar uma força-tarefa internacional com algum tipo de poder para atuar nos países signatários do Protocolo de Kyoto. E também para atuar em países como os EUA, que não se comprometeram com a redução de emissões", disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Luiz Fernando Furlan.
(Por Laura MacInnis,
Reuters , 25/01/2007)