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2007-01-26
Uma bomba-relógio política está prestes a explodir na próxima semana com a publicação, em 2 de fevereiro, do primeiro capítulo do quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), a maior autoridade científica da ONU sobre as causas e os efeitos do aquecimento global.

Entre os principais itens do relatório, devem constar os seguintes:

- o aquecimento global, sobretudo o provocado pela queima descontrolada de combustíveis fósseis, está se acelerando;

- a mudança climática, com início esperado para começar dentro de algumas décadas, já está ocorrendo, o que pode ser observado no derretimento das geleiras, no afinamento da calota polar do Ártico e no recuo das áreas de subsolo permanentemente congelado;

- uma conseqüência imediata para a humanidade será uma mudança nos padrões de chuva, levando a uma intensificada pressão sobre as águas, com secas prolongadas e cheias.

- se as temperaturas se elevarem demais, isto aumentará o acúmulo de gases de efeito estufa, correntemente armazenados no solo, na atmosfera, acelerando assim o aquecimento global;

- entre as potenciais ameaças, dependendo do nível de poluição futuro, estão níveis marinhos mais elevados e tempestades violentas mais freqüentes.

O anúncio destas previsões muito provavelmente aumentará as pressões sobre líderes de todo o mundo para incluírem a tomada de ações sobre a mudança climática no topo de suas agendas, a começar pelo presidente americano George W. Bush, cujo país é o primeiro poluidor mundial, e que se antecipou anunciando, nesta terça-feira, o objetivo de diminuir em 20% o consumo de gasolina nos Estados Unidos até 2017, com uma aposta no etanol. "O tempo está acabando", disse em Paris, no início do mês, Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC, na sigla em inglês).

"O relatório do IPCC elevará o senso de urgência. Mas ainda deixará sem resposta a pergunta de como lidar com esta urgência", acrescentou. "Agora estamos em uma escala de tempo na qual, quando falamos nas 'futuras gerações', elas já estão aí - são as crianças que estão no ensino fundamental ou no jardim de infância hoje", disse o climatologista francês Jean Jouzel, um dos membros do IPCC. Embora na sopa de letras dos acrônimos de organizações internacionais, o IPCC raramente venha à mente do público, esta organização trabalha nos bastidores, publicando seus trabalhos e atualizando relatórios sobre mudança climática a cada seis anos, em média.

Mas seu anonimato é inversamente proporcional à sua influência. Em seu primeiro relatório, em 1990, o IPCC informou haver evidências de que as concentrações de gases de estufa produzidos pelo homem estavam aumentando na atmosfera e que elas aqueceriam a superfície do planeta, mantendo presa a radiação solar. Estas conclusões levaram à criação da Convenção Marco sobre Mudança Climática (UNFCCC) durante a Cúpula do Rio de 1992, que se seguiu ao Protocolo de Kyoto, em 1997, o primeiro acordo criado com vistas a controlar a poluição por carbono.

Em seu terceiro e último relatório, em 2001, o IPCC fez seu alerta mais enfático até então, afirmando que as atividades humanas eram as causadoras da maior parte do aquecimento nos 50 anos anteriores. Naquele ano, segundo os níveis de poluição criados em seu cenário de computador, em 2100, a temperatura atmosférica global terá aumentado entre 1,4 e 5,8 graus Celcius e o nível do mar, entre 0,09 e 0,88 metros. Em um de seus primeiros atos de gabinete, Bush abandonou o Protocolo de Kyoto, defendendo esta decisão em parte afirmando que duvidava da existência de um consenso científico sobre o aquecimento global.

Bush encomendou um relatório próprio a cientistas americanos, que por sua vez concordaram com as avaliações do IPCC quase ao pé da letra. Nos últimos seis anos, centenas de estudos publicados em revistas e jornais científicos, trouxeram à luz uma montanha de evidências sobre o aquecimento global causado pelo homem e seus efeitos. Como resultado, os céticos foram reduzidos a uma minoria entre os cientistas, mas eles continuam influentes e bem financiados em Washington. Mesmo assim, muitos estados americanos tomaram ações independentes para controlar as emissões de gases de efeito estufa e a antes sólida frente corporativa que se opunha a uma abordagem mandatária se quebrou, com algumas das maiores companhias do país clamando por uma regulamentação federal.
(Ecodebate/ Agência France-Presse/ UOL Notícias, 25/01/2007)
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