Mudança climática entra rachando na pauta do FSM em Nairobi
2007-01-25
Os protestos e as manifestações globais surtiram efeito, afinal : a mudança climática e o aquecimento global entraram de sola, ou rachando, na agenda do FSM. Na terça-feira, aqui na vibrante e colorida capital do Quênia , os participantes do Fórum Social Mundial escutaram os alertas de um grupo liderado pelo britânico Phil Thornjill, coordenador nacional no Reino Unido do movimento "Campaign against Climate Change".
Os que imaginavam um discurso mais moderado, de acordo com a tradicional fleuma dos habitantes da pequena ilha – outrora a orgulhosa Inglaterra imperial, com domínios tão vastos que se dizia "onde o Sol nunca se poe", ficaram alarmados. E com razão: "A mudança climática é muito pior do que vocês podem imaginar", já alertava o chamamento para o evento realizado no imenso Moi International Sports Center, de Nairobi.
As razões são conhecidas, há décadas, por todos os jornalistas que cobrem os problemas ambientais, mundo a fora. A grande maioria dos cidadãos mais conscientes já sabe : as emissões dos gases do efeito estufa, como o CO2, devem ser reduzidas. É um problema global, não apenas de saúde. Esse efeito, disseram os oradores diante da platéia no FSM, está causando, neste mesmo momento em que escrevo, terremotos, tsunamis, furacoes, tufoes e secas.
Mas, enlouquecidas pela rapidez dos acontecimentos, as pessoas estão vivendo day by day, atrás de dinheiro, de sexo fácil, de entorpecentes. Buscando, em todo o Planeta, levar vantagem em tudo. A máxima do nosso campeão de futebol, Gérson, parece estar dominando esta verdadeira corrida dos insensatos, na minha opinião e de outros que compartilham essas idéias aparentemente ultrapassadas. São essas idéias que, justamente, movimentam os 50 mil participantes de todos os países africanos, mais os poucos delegados da América Latina e da Ásia. A distância conspira contra o Fórum. Mas esta já é outra discussão, às vésperas da crucial decisão dos organizadores nesta quarta, dia 24, a saber: onde será o FSM em 2008?
Mas dizia o impetuoso Phil, diante do público atento: a catástrofe final, apocalíptica, já está rondando o nosso velho Planeta Azul. Seria, nas palaavras do britânico, a maior ameaça já enfrentada pela Humanidade.
Ele conclamou os presentes à sua conferência a retomar as manifestações de novembro de 2006 – quase 100 mil pessoas na Austrália e 30 mil no Reino Unido, além de milhares na Bolívia, aqui no Quênia e na França. Foi em Nairobi, aliás, que se realizou a reunião das Nações Unidas, em novembro do ano passado, para examinar a questão climática.
Agora, os ambientalistas do mundo inteiro estão sendo convocados a protestar em dezembro deste ano, diante de nova conferência da ONU sobre a questão (COP13/MOP3), na ilha paradisíaca de Bali, Indonésia. Esta conferência será realizada a partir do dia 8 de dezembro deste ano. O objetivo do grupo britânico é aumentar ainda mais o número de militantes verdes nas ruas, diante da urgência da questão. Que, por sinal, também estará na agenda do rival Fórum Econômico, na gelada Davos, Suíça, por estes dias. De qualquer forma, o alerta esta lançado: a catástrofe final já está acontecendo mais rápido e mais cedo do que a maioria das pessoas pode imaginar. Baseando-se em estudos científicos publicados nos Estados Unidos e em periódicos britânicos e nos próprios relatórios da ONU sobre o tema, concluem os ingleses furiosos e melancólicos, ao mesmo tempo – e com total razao: "Em muitas ocasiões no passado mais distante, o clima do Planeta já mudou dramática e abruptamente no espaço de bem poucos anos".
Dá para dormir tranqüilo diante destas previsoes sombrias? Aqui em Nairobi, as temperaturas permanecem amenas. De dia, uns 25-26 graus Celsius, e à noite agradáveis 16-17 graus. Por este lado, tudo bem. Mas olhando para os céus africanos, fica aquela dúvida, já levantada em filme de ficção. Seu título não poderia ser mais sugestivo: "O Dia Depois de Amanha". Vocês já assistiram? Deve estar disponível, agora em vídeo, em alguma locadora perto da casa de vocês. Vale à pena, garanto.
(Por Renato Gianuca, Carbono Brasil, 24/01/2007)
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