O Brasil consumiu 347.371 gigawatts por hora (GWh) de energia em 2006, o que representou um aumento de 3,8% no consumo. O volume é menor que o aumento de 4,6% registrado em 2005. Entre as razões para a queda do consumo apontadas pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estão a menor atividade econômica e fatores climáticos. O setor industrial, que responde por 44,45% de toda a energia comercializada no país, apresentou aumento do consumo de apenas 3,6% em 2006.
Já o setor comercial aumentou o consumo em 4,5% e o residencial em 3,9%. A EPE projeta um aumento de 5,3% no consumo brasileiro de energia em 2007, o que seria suficiente para atender a um crescimento entre 4% e 5% do Produto Interno Bruto (PIB). A projeção inclui um crescimento de 4,6% no consumo industrial, de 6% para as residências, e de 6,6% para os setores de comércio e serviços.
A temperatura mais amena e a temporada de chuvas serviram como freio no consumo dos setores residencial, comercial e de serviços e também diminuiu a necessidade de ligar motores para irrigar as plantações. O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, destacou ainda alguns problemas enfrentados pela indústria brasileira.
"A indústria mais voltada para exportação, que é eletrointensiva, perdeu espaço no mercado internacional devido ao câmbio, que tornou essas exportações menos competitivas", disse.
Apesar do setor industrial apresentar crescimento de 3,6% - muito próximo à média nacional e acima dos 2,4% verificados em 2005, um ano considerado fraco - o consumo de energia pela indústria tem sido menor que na média dos últimos anos.
Na indústria, o maior consumo é do segmento de bens intermediários, que é intensivo em energia e consome muito mais que os setores de bens de capital e o de bens de consumo duráveis. Tolmasquim explicou que a EPE está projetando um crescimento da produção industrial medida pelo IBGE de 3% em 2006, diante de 2,5% em 2005.
"O resultado do ano passado foi melhor que o de 2005, que foi um ano péssimo, em que a produção de bens intermediários cresceu apenas 1%. Em 2006 esse crescimento deve ser de 2%, mas em 2004 foi de 7,4%, mais próximo da média histórica", disse.
Ele também comentou os efeitos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) sobre o setor de energia. Disse que não se deve comparar os incentivos dados a setores como o de saneamento e transportes a projetos do setor elétrico, que não terão dinheiro da União. E admitiu que a maior contribuição do PAC para o setor está nas medidas de desoneração fiscal e na melhora das condições de financiamento do BNDES.
"O principal efeito do PAC para o setor é viabilizar o que já estava planejado. É tornar mais factíveis os projetos", disse Tolmasquim, citando como exemplos o barateamento dos custos de construção de novas plantas com a redução do PIS/Cofins e a melhoria do processo de licenciamento ambiental.
Segundo ele, a EPE calcula que o custo da geração de energia terá redução de 10% a 18% com as novas regras de financiamento. Adjarma Azevedo, vice-presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), calcula que as novas regras do BNDES permitirão reduzir uma tarifa de R$ 127 por megawatt/hora (MW/h) para até R$ 109.
Questionado sobre a capacidade do país de suprir energia suficiente para atender ao crescimento do PIB projetado no PAC - 5% entre 2008 e 2010 - Tolmasquim admitiu que faltam 1.000 MW além das usinas que já estão em construção para atender ao aumento da demanda, anteriormente projetada entre 3.100 MW e 3.500 MW por ano. Segundo ele essa diferença será contratada no próximo leilão, em maio.
(Por Cláudia Schüffner,
Valor Econômico, 24/01/2007)