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2007-01-24
Nada menos de 350 jatos executivos estão previstos para aterrissar em Zurique com alguns grandes executivos e dirigentes políticos, em direção do Fórum de Davos. O encontro anual da elite econômica e política terá os efeitos da mudança climática como um dos temas centrais. Este ano, os organizadores anunciam um dos encontros ''mais verdes'' de todos os tempos. As companhias representadas têm faturamento combinado de US$ 10 trilhões, quase 25% do PIB global. E grande parte delas quer discutir meio ambiente.

Estão previstas 17 sessões para abordar aspectos legais de paisagem e implicações de segurança e econômica com a mudança climática. Para isso, há tanto avião e helicóptero no ar, propagando gás carbono para transportar vips, que fica escancarado o fosso entre discurso e prática. O número de aparelhos privados é tal que as autoridades suíças avisaram que a grande maioria só pode desembarcar e embarcar seus proprietários e depois buscar abrigo em aeroportos próximos.

Em 2006, Davos gerou o equivalente a 7 mil toneladas de C02 (carbono). As principais fontes dessas emissões foram transporte aéreo e a energia consumida nos eventos. Sempre aproveitando para lançar jogadas de marketing, o fórum "encoraja" cada participante a compensar a emissão de carbono provocada por sua viagem, pagando uma taxa que depende da duração de seu vôo. A vinda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva produziria 8,5 toneladas de C02, se fosse em avião comercial. A taxa que ele deveria pagar é calculada em US$ 128 pelo fórum. Mas como ele viaja no conforto estatal do AeroLula, a tonelagem de gás emitida é muitas vezes maior.

Davos levanta indiretamente dois pontos. Primeiro, está apenas começando o debate sobre uma taxa ecológica nas viagens aéreas, já proposta pelo governo da França e rechaçada por outros países industrializados. Segundo, que esse tipo de marketing pode ser cruelmente perigoso se for monitorado de perto.

Os organizadores de Davos estão copiando iniciativa do governo de Tony Blair. Ao organizar o G-8, há dois anos, ele fez um enorme barulho com a promessa de compensar as 4 mil toneladas de CO2 emitidas por causa do evento. Só que agora, o jornal "Sunday Times" mostrou que o esquema de fazer essa compensação com a construção de 2 mil residências "com eficiência energética" na África do Sul não vai ocorrer nos dois anos prometidos e sim em 21 anos.

A mudança climática alimenta a demagogia. Essa atitude vem mesmo de quem tem um engajamento ambiental. O príncipe Charles, da Inglaterra, é um deles. Quando a família real não está metida em algum escândalo, ele costuma esquiar em Klosters, estação a 25 minutos de Davos. Charles sempre vinha pilotando seu enorme jato até Zurique, desembarcava e subia a montanha. Agora, pela primeira vez em décadas, ele anunciou que não repetirá esse programa para evitar a emissão de carbono. Mas se descobriu que ele não cancelou nenhuma viagem a Nova York para atividades no jet-set americano.

O que a hipocrisia não pode driblar é a realidade. O impacto da mudança climática está escancarada nas ruas apertadas de Davos. Em anos anteriores, nesta época era difícil circular aqui, de tanta neve acumulada, e a temperatura normal chegava a 17 graus negativos. Ontem, a neve era pouquíssima e a temperatura, quase tropical para a região: 8 graus.
(Por Assis Moreira, Valor Econômico, 24/01/2007)

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