Uma comissão climática da ONU vai apresentar projeções de graves alterações na natureza até 2100 em um relatório na próxima semana, que culpará o uso dos combustíveis fósseis por agravar o aquecimento global, segundo fontes científicas. O texto, baseado no trabalho de 2.500 cientistas, deve ser divulgado no dia 2 em Paris. Ele diz que os gases do efeito estufa estão em seu maior nível nos últimos 650 mil anos, alimentando o aquecimento global.
Mas o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) também pode conter boas notícias, ao reduzir a amplitude -- para cima e para baixo -- das variações em relação ao estudo anterior da comissão, em 2001. O relatório deve dar o tom para as negociações sobre a renovação do Protocolo de Kyoto, principal plano internacional para conter a emissão de gases do efeito estufa, que expira em 2012.
O IPCC terá pelo menos 90 por cento de certeza de que as atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis, são responsáveis pelo aquecimento registrado nos últimos 50 anos. O texto preliminar conclui que essa ligação é "muito provável", enquanto em 2001 era considerada apenas "provável", uma certeza de 66 a 90 por cento.
Cientistas e representantes dos governos se reúnem a partir de 29 de janeiro em Paris para analisar e aprovar o texto. Fontes dizem que a previsão será de um aumento de 2 a 4,5 graus Celsius na temperatura média do planeta neste século, sendo um aumento de 3 graus o mais provável.
O relatório de 2001 previa aumentos de 1,4 a 5,8 graus Celsius até 2100. O novo texto também reduz a previsão de variação do nível dos oceanos, que no relatório de 2001 era de 9 a 88 centímetros.
O dinamarquês Bjorn Lomborg, autor de "O Ambientalista Cético", disse que o relatório vai desacreditar a "retórica da catástrofe" que ele aponta em alguns governos. "Sim, a mudança climática é um problema, mas não é a coisa abrangente e destruidora de civilizações que a retórica de hoje em dia nos diz", afirmou.
Mesmo assim, a União Européia diz que uma temperatura 2 graus superior já provocaria mudanças "perigosas", como ondas de calor iguais à que em 2003 matou 35 mil pessoas no continente. A temperatura média do planeta subiu 0,6 graus desde 1900, e todos os dez anos mais quentes desde o início dos registros, em meados do século 19, ocorreram de 1994 para cá. Desde a última Era Glacial, o mundo já ficou em média 5 graus mais quente.
(Por Alister Doyle,
Reuters , 23/01/2007)