Quilombolas de Angelim e trabalhadores do assentamento do MST de Itaúnas, em Conceição da Barra, vão plantar espécies nativas da mata atlântica e frutíferas para geração de renda. Para isso, participarão do programa Reflorestamento Econômico Consorciado Adensado (Reca). As espécies mais adaptadas à região, a forma de plantio e o financiamento do projeto estão sendo discutidos. As discussões entre lideranças das comunidades e técnicos do projeto Corretor Central (Ecológico) da Mata Atlântica começaram nesta segunda-feira (22), à tarde, em reunião na sede do Parque Estadual de Itaúnas.
Segundo a engenheira florestal Érica Munaro, do projeto Corredor Ecológico, dois viveiros de espécies da mata atlântica e de árvores frutíferas serão implantados. Um deles em Angelim. O outro, no assentamento do MST. A engenheira cita entre as espécies frutíferas a serem plantadas o caju, a goiaba e a pitanga. Anda entre espécies que começarão a dar resultados econômicos de curto prazo a aroeira e a pimenta-rosa.
As espécies frutíferas serão consorciadas com espécies destinadas à produção de madeira, cujo ciclo é mais longo, e irão gerar lucros no horizonte de 15/20 anos. As espécies serão definidas a partir da realidade local, e considerando que o solo da região é bastante arenoso, como destaca a engenheira. Os técnicos e as lideranças comunitárias também vão definir como a comunidade participará do projeto. E entre outros pontos, levantar as fontes de financiamento para os viveiros e os plantios.
A mata atlântica tem centenas de espécies madeireiras de valor econômico e de crescimento rápido. A Embrapa, em um de seus estudos, aponta parte destas espécies, indicando quantos anos levam para crescer, além de apontar a produtividade. Estas espécies, algumas com nome científico, nome popular e o tempo de seu crescimento, outras, apenas com seus nomes populares, estão listadas abaixo.
Copaifera trapezifolia, pau-óleo, 5 anos; Jacarandá micrantha, caroba, 9; Myrocarpus frondosus, cabriúva, 8; Mimosa scabrella, bracatinga, 4; Sclerolobium paniculatum, táxi-branco, 4; Anadenanthera peregrina var. falcata, angico-cascudo, 10; Anadenanthera colubrina var. cebil, angico-vermelho, 8; Zeyheria tuberculosa, ipê-felpudo, 4; Peltophorum dubium, canafístula, 7; Enterolobium contortisiliquum, 4; Alchornea triplinervia, 7; Senna multijuga, 7; Gallesia integrifólia.
E ainda: pau-d´alho, 10; Centrolobium robustum, araribá-rosa, 9; Cecropia hololeuca, imbaúba-prateada, 6; Bauhinia forficata, pata-de-vaca, 6; Ocotea puberula, canela-guaicá, 9; Calophyllum brasiliense, guanandi, 8; Dalbergia brasiliensis, jacarandá, 8; Apuleia leiocarpa, grápia, 8; Copaifera langsdorffii, copaíba, 14; Ocotea porosa, imbuia, 8; Bastardiopsis densiflora, louro-branco, 9; Roupala brasiliensis, carvalho-brasileiro, 8; Tabebuia alba, ipê-amarelo, 5; Quillaja brasiliensis, saboneteira, 3. Muitas dessas espécies poderão não ser adaptadas à região de Itaúnas.
Próximo ao parque, atividades sustentáveis
Os plantios serão feitos em regiões próximas ao Parque Estadual de Itaúnas, que teve o seu plano de manejo aprovado. Com o plano no entorno do parque as atividades devem ter como objetivo evitar atividades que coloquem em risco a unidade de conservação. Entre estas a caça, a pesca indiscriminada, a retirada de madeira e turismo descontrolado, atividades que colocam em risco a biodiversidade da região.
A região onde o parque está localizado é considerada de extrema importância ecológica, biológica, hidrológica, geológica, geomorfológica e histórico-cultural. Os ecossistemas na região estão intrinsicamente ligados à bacia do rio Itaúnas e à região costeira. Lá são encontrados áreas de tabuleiro, fragmentos florestais em extinção no Estado, restingas, dunas, ambientes estuarinos de mangues, e a mais representativa região de alagados do Estado.
Essa variedade de habitats e seu bom estado de conservação, aliados a uma grande diversidade de espécies vegetais, o colocam como de extrema importância para a manutenção de uma rica e expressiva fauna associada. No parque podem ser encontrados ainda 23 sítios arqueológicos que abrangem três períodos culturais distintos, representando a diversidade cultural do norte do Estado. Estes sítios referem-se a ocupações pré-cerâmicas de sociedades de caçadores, coletores, pescadores, e dois grupos agricultores ceramistas pré-coloniais distintos, entre outros. Estes sítios precisam ser preservados para que sejam objeto de pesquisa científica sistemática.
Atualmente, o Centro de Visitação do Parque Estadual de Itaúnas funciona das 8h30 às 17h30, todos os dias, com exposição permanente. Na temporada de verão, o Centro fecha às 21h. Não é necessário o agendamento de visitas. Na temporada de verão, é possível agendar visita monitorada aos ninhos de tartarugas marinhas, uma atividade desenvolvida pelo projeto Tamar na região.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 22/01/2007)