A energia solar é uma das grandes esperanças para livrar o mundo da
poluição causada pelas usinas termelétricas ao produzir eletricidade,
mas por enquanto ela é uma alternativa cara, usada principalmente em
pequenas comunidades com projetos subsidiados por governos. A partir de
agora, está mais próximo o dia em que se poderá utilizar a energia do
Sol para produzir eletricidade em larga escala. A empresa americana
Spectrolab, uma subsidiária da Boeing, anunciou a criação de uma célula
fotovoltaica capaz de transformar em eletricidade 40,7% dos raios
solares que incidem sobre ela. Nas células convencionais usadas hoje nas
usinas, esse aproveitamento é de apenas 22%. Isso significa que a nova
célula é duas vezes mais eficiente. A novidade é o primeiro passo de uma
revolução no setor energético. Usinas equipadas com a nova célula
gerarão eletricidade ao preço de 8 a 10 centavos de dólar por
quilowatt/hora, praticamente o mesmo que se paga hoje pela força gerada
por termelétricas. "Considerando a evolução da pesquisa em energia
solar, a invenção da nova célula é o equivalente a correr 1 milha (1.609
metros) em menos de quatro minutos", disse a VEJA Larry Kazmerski,
diretor do Centro Nacional para Fotovoltaicos do Departamento de Energia
americano, referindo-se ao recorde esportivo alcançado pelo inglês Roger
Bannister em 1954 e que se acreditava inatingível.
As células fotovoltaicas produzem eletricidade absorvendo a energia da
luz na forma de fótons e transformando-a em corrente elétrica. As
células convencionais são feitas de silício, o mesmo material usado nos
chips de computador. O grande achado da nova célula é utilizar
diferentes tipos de material, em camadas sobrepostas. Cada camada
absorve a energia de uma determinada cor do espectro da luz solar. Dessa
maneira, a supercélula aproveita mais de cada raio que incide sobre ela
com relação à célula convencional. A tecnologia é semelhante à usada
para alimentar as baterias das sondas espaciais Mars Rovers, que há três
anos pesquisam o solo marciano.
Se toda a energia que o Sol despeja sobre a Terra fosse aproveitada por
células fotovoltaicas, bastaria uma hora de exposição para gerar a
eletricidade consumida no mundo em um ano inteiro. Atualmente, apenas
0,01% da eletricidade usada no planeta vem do Sol. A produção de energia
solar cresce à razão de 25% ao ano, mas essa expansão é praticamente
restrita a três países, Alemanha, Estados Unidos e Japão. A nova célula
pode ser o impulso que faltava para disseminar o uso dessa energia. O
início de sua produção está previsto para 2008, e os primeiros lotes
serão utilizados por companhias envolvidas em projetos de geração de
eletricidade em larga escala. Um deles será instalado na província de
Victoria, na Austrália, e terá a capacidade de gerar 154 megawatts de
eletricidade, o suficiente para abastecer 45.000 casas. Para produzir a
mesma quantidade de energia, uma usina termelétrica lança na atmosfera
400.000 toneladas de dióxido de carbono, o equivalente às emissões de
80.000 carros ao longo de um ano. "A célula supereficiente é uma
tecnologia inovadora que abre caminho para toda uma nova geração de
usinas solares", diz Kazmerski. "Em pouco tempo veremos células ainda
mais potentes, capazes de converter 50% da energia solar em
eletricidade", completa ele.
(Por Rafael Corrêa,
Veja, 24/01/2007)