A Engevix, empresa de engenharia, conhecida por grandes obras de infra-estrutura desde os anos 60, vai alterar sua estrutura organizacional. A empresa pretende separar a área de energia das demais atividades em que atua, como construção de rodovias, hospitais, sistema de saneamento, de gás e petróleo.
A divisão de energia começou a ganhar maior importância dentro do grupo, principalmente nos últimos dois anos. Em 2006, a Engevix iniciou os primeiros projetos próprios de geração de energia elétrica. Em dezembro, pôs em operação sua primeira Pequena Central Hidrelétrica (PCH), na qual detém 100% do capital.
A PCH Esmeralda, no Rio Grande do Sul, recebeu investimentos de R$ 71 milhões, em parte financiados pelo BNDES, e tem capacidade para gerar 22 MW. A Engevix ainda programa a conclusão de outras duas PCHs próprias em 2007 - Santa Laura (RS) e Santa Rosa (RJ) - e já tem projeto de mais duas, cujos detalhes ainda não são revelados.
A constituição de uma empresa só para energia permitirá formas de financiamento diferentes e abrirá espaço para uma alavancagem maior, segundo José Antunes Sobrinho, vice-presidente de energia e recursos hídricos da Engevix, e um dos sócios da empresa. Hoje, os projetos de construção na área de energia envolvem criação de sociedades de propósitos específicos (SPEs), nos quais a holding Engevix entra com as garantias. É possível que a empresa de energia venha a abrir o capital com emissão de uma oferta pública de ações para financiar novos projetos. Com a separação, a área de energia também passa a não comprometer a capacidade de alavancagem da holding do grupo.
A Engevix atua na área de energia há cerca de 40 anos. Fez grandes projetos no passado, como a Usina de Volta Grande (MG), Tucuruí (PA) e Itaipu (PR). Entre ativos que possui estão participações minoritárias em linhas de transmissão e em hidrelétricas, como a de Dona Francisca (RS).
No negócio de PCHs, que entrou mais recentemente, chegou a ensaiar parcerias com sócios para novos projetos, mas hoje pretende ser detentora do capital total ou ter a fatia majoritária desses empreendimentos. No total, hoje a empresa tem cerca de 160 MW próprio, e em três anos pretende dobrar esse volume.
Segundo Antunes, as PCHs têm atraído a empresa pelas vantagens que trazem em relação às grandes usinas. Um preço melhor no valor da energia ofertada a consumidores livres, tempo mais rápido de construção - 18 meses, ante os quatro ou cinco anos que levam um projeto de uma hidrelétrica de grande porte - e menor impacto ambiental, que, no fim, agiliza a obtenção da licença de instalação, grandes entraves que a Engevix vê nos projetos de grande porte.
Embora o foco esteja em consolidar os projetos de PCHs, isso não quer dizer que a empresa não se interesse por grandes projetos. Segundo Antunes, está em estudo a geração de 2 mil MW nos próximos dois anos, mas são projetos que a Engevix desenvolverá para investidores assumirem a gestão. Antunes acha baixo o teto estipulado pelo governo para os leilões de energia nova e também destaca que para os projetos serem realmente atraentes para os investidores é preciso ter uma legislação ambiental mais "equilibrada". Hoje, a licença ambiental é um dos principais entraves para construções de grandes usinas.
A concretização da empresa de energia da Engevix está prevista para ocorrer até o início de 2008, podendo sair ainda neste ano. Além de PCHs e ativos de transmissão, essa empresa controlará novos ativos na área de energia eólica, que estão em estudo.
A empresa será criada depois de um período considera bem satisfatório para os negócios do grupo. Em 2006, o grupo Engevix dobrou o faturamento em relação a 2005, alcançando R$ 592,9 milhões.
(Por Vanessa Jurgenfeld,
Valor Econômico, 22/01/2007)
Nota do AmbienteJÁ: A empresa Engevix é responsável pelo desastre ambiental na construção da Hidrelétrica de Barra Grande, que inundou uma área de 2.077 hectares de matas primárias e mais 2.258 hectares de vegetação secundária em estágio avançado de recuperação, na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul.