Produtos e processos patenteados pelo Inpa podem gerar emprego e renda no Amazonas
2007-01-18
Para muita gente, quando se fala em piranhas, a imagem evocada é a de animais sendo devorados até que sobrem deles apenas os ossos. À parte de estereótipos disseminados pelo cinema, a sopa deste peixe está prestes a se tornar uma iguaria apreciada em vários países da Ásia, a depender de parcerias hoje buscadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
O Inpa licenciou a patente da sopa de piranha para a empresa Manausrio – Alimentos Orgânicos, com sede no Rio de Janeiro, que iria responder por sua produção e venda.
Uma tragédia, porém, interrompeu este processo. Ao retornar da assinatura do contrato de concessão de uso, em 28 de setembro, o empresário Márcio Aquino de Oliveira, 56, tornou-se uma das 154 vítimas no maior acidente aéreo já registrado no Brasil – a queda do Boeing 737 da Gol, em 29 de setembro, no Mato Grosso.
Segundo a chefe da Divisão de Propriedade Intelectual e Negócios do Inpa, Noélia Falcão, as negociações estão sendo retomadas pelo filho do empresário. O licenciamento da patente não previa exclusividade, o que abre as portas também a outros potenciais interessados.
A sopa de piranha foi desenvolvida pelo pesquisador Edison Lessi e é feita à base do peixe desidratado. Sua carne pode ser separada mecanicamente, por meio de um processo simples e de baixo custo, além de ser facilmente alcançável a escala industrial.
A “invenção” faz parte de um portfólio com nove produtos e processos já patenteados pelo Inpa, hoje aguardando investidores que os possam transformar em realidade no mercado brasileiro e no exterior. Em fevereiro, este material estará acessível no portal do Instituto e também vai ser distribuído como peça gráfica.
Em suas páginas encontra-se, por exemplo, um método para diagnosticar o tipo de leishmaniose mais freqüente na Região Norte, com potencial de utilização por órgãos de saúde em todas as esferas de administração. “É utilidade pública”, diz Noélia Falcão.
Outro produto do portfólio é a “pupurola”, uma granola feita a partir da pupunha, o fruto da pupunheira (Bactris gasipaes), planta mais conhecida pela extração de seu palmito. O alimento desenvolvido pelo Inpa tem ainda castanha da Amazônia como um de seus ingredientes. “É um produto regional, com o apelo amazônico, rico em proteínas, minerais, fibras e pró-vitamina A”, enumera Noélia, que cita ainda os sabor, textura e coloração atraentes da mistura. Entre as vantagens tecnológicas, figura a facilidade em seu preparo.
Consta nesses contratos de concessão de uso a serem firmados com o Inpa que, preferencialmente, a fabricação de cada produto deve ser feita em solo amazônico. Com isso, o Instituto pretende gerar emprego e renda em várias regiões do estado, de modo a diminuir a dependência hoje observada em relação à Zona Franca de Manaus.
A melhoria geral na qualidade de vida resultante desses investimentos pode diminuir a pressão sobre a floresta e o inchaço da capital. “Se as pessoas não têm alternativa nos outros 62 municípios do Amazonas, elas acabam vindo para Manaus”, diz Noélia.
(Por Mônica Pinto, AmbienteBrasil, 17/01/2007)
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=28962