Um livro escrito por cinco professores indígenas da etnia ticuna será distribuído para 110 escolas indígenas de cinco municípios próximos ao rio Solimões, no Amazonas. A publicação contém informações sobre a situação atual das aldeias em relação à disponibilidade de animais para a caça e a pesca, exemplos de práticas que contribuíram para a preservação do meio ambiente, legislação ambiental e sugestões dos moradores para ajudar a recuperar a fauna e a flora da região. A publicação é destinada para as aulas de educação ambiental, com o objetivo de retratar a cultura dos índios e incentivar a conservação da floresta amazônica.
Os índios ticuna são a etnia mais numerosa da Amazônia brasileira, com cerca de 35 mil indivíduos, divididos em 130 aldeias localizadas perto das fronteiras com a Colômbia e com o Peru. Nas 110 escolas indígenas que receberão o livro, trabalharam 400 professores que lecionam para mais de 17 mil alunos do ensino fundamental e médio. O material didático usado na maioria dessas instituições de ensino é específico para a cultura indígena, mas não para a etnia especificamente. “O material que chega até eles vem com uma linguagem diferente da deles. Os animais mostrados nos livros, como tubarão, baleia e peixes marinhos, não são muito representativos da fauna amazônica”, explica Marcelo Vidal, gerente de projetos doPrograma de Apoio ao Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (Provárzea).
Apoiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Provárzea/Ibama é o responsável pela organização da publicação em conjunto com a Organização Geral dos Professores Ticunas Bilíngües (OGPTB). A iniciativa faz parte do projeto “Educação Ambiental e Conservação da Várzea em Áreas Indígenas Ticuna do Alto Solimões”, realizado do início de 2002 ao final de 2006 nos municípios de Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá e Santo Antônio do Içá. Apesar de a atividade ter sido encerrada no final do ano passado, o livro só foi lançado nesta semana.
A publicação, intitulada “Vamos cuidar de nossa terra” (ou “Ngiã nüna tadaugü i torü nnãne”, na língua ticuna) faz um retrato das atividades praticadas nas aldeias, como o plantio, a caça e a pesca. São mostrados também animais como cotia, macaco guariba, jabuti, veado, mutu; roças de mandioca, banana e milho; e o manejo florestal da madeira. “[O livro] traz detalhes da percepção dos ticuna sobre os problemas ambientais e o próprio cotidiano. Os escritores descrevem como fizeram todo o trabalho de pesquisa e as entrevistas com os moradores”, conta a organizadora da obra, Deborah Lima, professora de antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), outra parceira da iniciativa.
O livro foi escrito pelos professores indígenas Clóves Mariano Fernandes, Nazareno Pereira Cruz, Damião Carvalho Neto, Saturnino Jesuíno Jumbato e Luciana da Silva, todos ligados à OGPTB, e ilustrado por outros professores da organização. O texto é em Português, com algumas expressões na Língua Ticuna, para que possa ser usado também em escolas não-indígenas dos cinco municípios. “É importante que haja essa aproximação com a cultura ticuna, pois eles estão em contato direto com os não-indígenas. Não é possível isolar um grupo étnico, então é melhor que todas as pessoas compartilhem ações e o conhecimento sobre a gestão dos recursos ambientais”, diz o gerente de projetos do Provárzea/Ibama.
(Por Talita Bedinelli,
Agência PNUD, 17/01/2007)