Paula Scheidt*
O processo de extinção é tão antigo quanto a Terra, porém cientistas calculam que o mundo perde hoje cerca de mil a 10 mil vezes mais espécies que a taxa de extinção do passado. O urso polar, por exemplo, foi classificado pelo governo norte-americano como um animal ameaçado de extinção no final de 2006, isso porque, com o ritmo de derretimento do gelo do Ártico, o animal não teria solo para habitar em 50 anos.
Especialistas estimam que existem mais de 15 mil espécies ameaçadas de desaparecerem do planeta. É difícil afirmar quantas espécies foram extintas no último século, pois ter o registro de declínio de populações de um animal ou planta em particular não é uma tarefa fácil, assim como a definição técnica de extinção não ser muito clara. Uma espécie somente é considerada extinta depois de exaustivas pesquisas em um vasto número de habitats e nenhum indivíduo for encontrado.
Uma espécie pode levar décadas ou talvez séculos para ser extinto, mesmo sendo raramente vista. Por isso, mesmo que os cientistas suspeitem fortemente que um animal foi extinto, não podem defini-lo até um tempo ter passado desde a última observação – o que pode significar 30 ou 50 anos para algumas espécies.
Conservacionistas calculam que desde 1500 houve mais de 800 registros de extinção, entretanto o verdadeiro número possivelmente é muito maior, visto a devastação de alguns territórios do planeta.
Um em cada quatro mamíferos e um a cada oito passaros estão ameaçados. Metade de todas as tartarugas marinhas e de água doce passam pelo mesmo perigo. Anfíbios talvez sejam o maior grupo em sérios riscos, com uma a cada três espécies em sério risco e mais de 120 espécies consideradas extintas nos últimos 25 anos.
Situação do Brasil
O último levantamento de animais brasileiros ameaçados de extinção foi realizado em 2002 e conta com 627 espécies. A lista anterior havia sido produzida em 1989 e, em 12 anos, o número triplicou. Apesar disso, o Brasil ainda está abaixo de padrões internacionais de extinção. O tolerável é que até 12% da fauna estejam ameaçados. No país, esse número é de 9%. Para a comparação, são analisados apenas mamíferos e aves.
Novamente uma pergunta complicada a ser respondida é de quantas espécies ainda estão vivas. Atualmente cerca de 1,5 milhão de animais e plantas já foram identificados ou informalmente nomeados. Apesar disso, o número real pode chegar a 15 milhões segundo estimativas ou até números maiores como 30 milhões, de acordo com alguns cientistas.
Extinção em massa?
A última grande extinção pelo qual passou a Terra foi há 65 milhões de anos, que fez os dinossauros desaparecerem como resultado de um asteróide que acertou o planeta e causou tremendas mudanças climáticas. Extinções massivas anteriores, segundo estudos, foram causadas por processos geofisiológicos de larga escala, como um supervulcão em erupção ou o lançamento de grandes quantidades de gases do efeito estufa por solos marinhos.
A maior extinção de todas acredita-se que tenha ocorrido há 251 milhões de anos, quando cerca de 90% da vida marinha e 70% das espécies terrestres sumiram. Uma das teorias afirma que algo aconteceu com a atmosfera da Terra que fez todo o oxigênio desaparecer.
A principal razão para se preocupar com o ritmo de extinções é que, mesmo com toda a tecnologia atual, a humanidade ainda depende do delicado balanço ecológico natural do mundo para sobreviver. A biodiversidade da Terra provê ar limpo, água potável, alimentos e novos medicamentos. Um processo de mudanças muito grande poderia causar um colapso do sistema de suporte a vida natural.
Além disso, a vida na Terra levou cerca de 10 a 100 milhões de anos para se recuperar de uma extinção em massa. E uma última razão para ficar atento é filosófica. Se os seres humanos conservam trabalhos de arte, por que não conservar a natureza? A extinção de um besouro é menos importante que a destruição de um Rembrandt ou um Picasso? Talvez seja hora de parar e rever os conceitos.
*Repórter da Carbono Brasil
(
Portal SEIA-BA, 18/01/2007)