Gripe aviária: O perigo se espalha pelo Vietnã
2007-01-17
O êxito obtido pelo Vietnã no ano passado no combate à gripe aviária parece diluir-se com o ressurgimento do vírus no sul da região do delta do rio Mekong. É provável que em fevereiro a epidemia tenha se estendido por todo o país, alertaram as autoridades. O desanimador prognóstico, divulgado na segunda semana de janeiro pelo vice-ministro de Agricultura e Desenvolvimento, Bui Ba Bong, se deve à surpreendente presença do vírus em aves de granja que eram transportadas desde a região do delta, no momento em que esta nação do sudeste asiático realiza o anual Festival Tet, que termina no final de fevereiro.
Desde dezembro, quando as baixas temperaturas cobriram toda a geografia vietnamita, foram registrados novos focos do vírus H5N1 da gripe do frango em quatro províncias do delta, que foram obrigadas a sacrificar mais de 400 mil aves, segundo a estatal Agência de Notícias do Vietnã. Para combater esse ressurgimento – e registros de outros no centro e norte do país – Hanói está preparando a máquina do governante Partido Comunista para montar uma ofensiva, que poderá incluir o controle do transporte de animais, aumento da cobertura da vacinação de aves e o aceleramento da campanha informativa sobre a doença.
“Continuam sendo postos ovos de maneira ilegal e transportando aves e produtos derivados para outras áreas”, alertou Bui Quang Anh, chefe do Departamento de Saúde Animal, ao jornal estatal de língua inglesa Notícias do Vietnã. O departamento ordenou “reprodução estrita e inspeções sobre o transporte e o sacrifício de animais a fim de assegurar produtos alimentícios seguros e higiênicos”, afirmou. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) depende dos esforços do Vietnã, e de outras nações do leste da Ásia, no sentido de combater os novos focos do mortal vírus desde o início do inverno. É o terceiro ano que a doença golpeia a região.
“Para ganhar a batalha contra a altamente patogênica gripe aviária é necessária uma visão de longo prazo”, disse à IPS um porta-voz do escritório regional para Ásia e Pacífico da FAO. “É essencial manter uma alta vigilância e rápida resposta diante dos focos, bem como informar imediatamente as autoridades veterinárias sobre qualquer morte de aves”, acrescentou. “Também é indispensável melhorar a higiene das granjas, a administração do transporte dos animais e da inspeção do mercado, com como a seleção das aves em casos de focos. Agora, não há tempo para contemplações”, advertiu a FAO.
As nações do nordeste e sudeste da Ásia estão forçadas a agir, já que o vírus, mortal e já endêmico em algumas áreas, começa a causar impacto com a queda das temperaturas. No começo de novembro, a Coréia do Sul teve de sacrificar mais de um milhão de frangos, codornas e patos por causa de pelo menos quatro focos. A China também informou nos últimos dias sobre o primeiro caso de gripe aviária em humanos depois de sua propagação ter apresentado uma redução. Por outro lado, na Indonésia, o país mais afetado pelo vírus, já morreu uma pessoa vítima dessa enfermidade neste ano. Trata-se de um jovem de 14 anos falecido quatro dias depois de ser hospitalizado com sintomas da gripe do frango. O rapaz procedia de uma localidade próxima à Jacarta, onde foram registrados casos do H5N1.
A gripe aviária causou 157 mortes de pessoas desde o final de 2003 e infectou mais de 263 em 10 países, segundo a OMS. A Indonésia tem a maior quantidade de vítimas humanas, 58, seguida do Vietnã, com 42. Três anos depois de os especialistas terem feito as primeiras advertências de que a pandemia da gripe poderia causar milhões de mortes de o vírus sofrer mutação e começar a contagiar humanos, os cientistas ainda têm de continuar alertando a comunidade internacional. “O vírus está mutando o tempo todo, mas são mudanças pequenas”, disse à IPS Peter Cordingly, porta-voz do escritório do Pacífico Ocidental da OMS. E mais, “também existem outras duas variedades do vírus na região: a da Indonésia-China e a do Vietnã-Tailândia”, acrescentou.
A OMS notou que os países aumentam sua confiança para informar as autoridades sanitárias sobre a presença do vírus em humanos. A China é o exemplo desta mudança para a transparência. “Os chineses nos informaram em 48 horas sobre seu mais recente caso”, disse Cordingly. “Isto é muito melhor do que antes, quando havia reticências por parte do governo para nos informar”, acrescentou. Entretanto, esta tendência não conseguiu impor-se nos casos em que o foco é registrado nas fronteiras comerciais. Nessas circunstâncias, a reticência em aceitar publicamente ou apontar os responsáveis prevalece, apesar de as nações solicitarem ajuda para aplicar os acordos internacionais sobre a vigilância da pandemia.
Em resposta a este “delicado aspecto diplomático”, a FAO solicitou aos governos que fortaleçam as medidas de controle nos pontos fronteiriços de passagem. “A FAO reconhece que o comércio internacional de aves continua no sudeste e leste da Ásia apesar dos conhecidos riscos que isso representa para governos e moradores da região”. Outros países da Ásia que têm casos de gripe aviária são Tailândia, Camboja, Laos, Malásia e Birmânia. Somente no sudeste asiático, cerca de 200 milhões de aves foram sacrificadas o que representa perdas de, aproximadamente, US$ 10 bilhões, diz a FAO.
Mas entre todos os 50 países onde o vírus foi registrado, o Vietnã se destacou como modelo de como os focos podem ser contidos. Graças ao programa nacional de seleção, vacinação, fechamento de mercados de aves e campanhas informativas, este país ficou livre de casos de gripe do frango durante oito meses. Este êxito aconteceu diante da imimente crise marcada por cifras, como a de ter a maior quantidade de casos em humanos (no final de 2005) e ter perdido 44 milhões de aves, 17,5% das que possuía, desde o surgimento da doença em 2003.
(Por Marwaan Macan-Markar, IPS, 16/01/2007)
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