Meta de biocombustível da UE não ameaça alimentos
2007-01-17
A meta da Comissão Européia de que até 2010 os biocombustíveis representem 10 por cento de todo o combustível para veículos consumido no bloco leva em conta a necessidade de não desestimular a produção agrícola de alimentos, disse uma importante autoridade da UE na terça-feira. "Tudo é uma questão de equilíbrio", disse Michael Mann, porta-voz da comissária européia de Agricultura, Mariann Fischer Boel, ao evento Reuters Global Biofuels Summit.
"Fizemos nossa lição de casa, achamos que a meta de 10 por cento para os biocombustíveis é uma meta realista e possível de alcançar. Não queremos tirar os agricultores da produção de alimentos nem substituir a produção de alimentos por biocombustível", afirmou. A nova meta foi apresentada nesta semana como parte de um pacote para ampliar o uso de energias renováveis no continente.
"Vemos isso como uma boa oportunidade para os agricultores. Num mundo de crescente pressão para as importações, qualquer nova saída para nossos produtores é uma coisa boa. A agricultura tem de se manter diversificada. Estamos muitíssimos conscientes da necessidade de ter certos níveis de segurança alimentar na Europa", acrescentou.
Há uma disputa a respeito do tema dentro da Comissão Européia. Ambientalistas dizem que deveria haver ainda mais ênfase nos combustíveis renováveis, enquanto o setor alimentício acusa o Poder Executivo europeu de desrespeitar seus interesses.
Mann admitiu que, com a globalização, a agricultura européia terá de se adaptar, voltando-se para alimentos de alta qualidade ou de elevado valor agregado. "Realmente não dá para competir com o grosso dos produtores de matérias-primas a baixo custo, como o Brasil. Então, a forma de competir no mercado de alimentos vai mudar, mas isso não muda o fato de que temos de manter um alto nível de produção alimentar", afirmou.
Paralelamente, porém, a Comissão criou medidas para incentivar a produção de álcool e outros combustíveis. O "prêmio energético" de 45 euros por hectare para safras destinadas à produção de biocombustíveis foi ampliado neste ano para todos os 27 países do bloco, e a área máxima coberta subiu para 2 milhões de hectares. Mann lembrou que há excesso de milho na Hungria e terras aráveis sobrando na Romênia e na Bulgária, países que acabam de aderir ao bloco, o que pode ser usado para o desenvolvimento dos biocombustíveis.
Mesmo assim, segundo o funcionário, haverá a necessidade de importar etanol do Brasil e óleo de palma da Ásia. "Será um equilíbrio. Não queremos alcançar nossa meta de 10 por cento puramente com a produção doméstica, o que poderia desviar demais do lado da produção alimentar", afirmou.
(Por David Evans, Reuters, 16/01/2007)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2007/01/16/ult29u53140.jhtm