Pinus causaram impactos negativos na Ilha dos Marinheiros, em Rio Grande
2007-01-15
Moradores da Ilha dos Marinheiros reclamam que a plantação de pínus nos Fundos da Ilha causou alterações negativas no ambiente da localidade, contribuindo para que uma lagoa secasse e cortando, com a construção de estrada, um cordão de dunas. A lagoa, localizada próximo da escola, era local de banho. Hoje, não tem mais condições de uso. Em seu interior, ficou um "colchão" de ramas. E, à sua volta, a terra está cheia de ramas e pinhas, não tendo mais suas características naturais e beleza.
Segundo contam alguns moradores, naquela área, com a água da chuva se formavam várias lagoas. Há mais ou menos 20 anos, quando a empresa Flopal comprou terrenos e iniciou a plantação de pínus, foram abertas várias lagoas, formando um canal, com o objetivo de deixar a área seca para a plantação de pínus. A medida, no entender dos moradores, alterou o ambiente do local e, com o tempo, as chuvas de inverno não conseguiram mais encher a lagoa próxima da escola.
“Era uma lagoa de água limpa, branca, e foi sumindo. As ramas dos pínus e as pinhas iam caindo nela. Era uma das poucas que não tinha sido ligada ao canal. Há 10 ou 12 anos se tomava banho nela. Era funda e grande na primavera. No verão, secava um pouco”, conta a professora Rúbia Graça Gonzaga. Além da lagoa, a água consumida pela população, proveniente do solo, que era cristalina, pura, foi prejudicada. Ficou amarelada e ruim. “Ali havia as melhores cacimbas. E a água acabou ficando com gosto ruim”, observou Rúbia.
Moradores também lembram que após os pínus crescerem e começarem a ser cortados, há mais ou menos três anos, ocorreram vários incêndios nos Fundos da Ilha, colocando em risco a população do local. A espécie também se alastrou para outras áreas, devido ao deslocamento das sementes provocado pelo vento. Hoje, há várias mudas e pínus já em desenvolvimento fora dos lotes definidos para esse plantio.
“Como estamos trabalhando no Plano de Manejo da Ilha, estamos tentando uma solução com o promotor (da Promotoria Especializada). Queremos que tirem o pínus que está se alastrando, que não serve para eles (empresa)”, disse Silas Freitas Theodoro. A estrada construída pela empresa sobre as dunas - coberta de cavaco de madeira, com licença da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), para facilitar o acesso dos trabalhadores e veículos da empresa para o corte dos pínus - também é lamentada por moradores.
Conforme Theodoro, são aproximadamente quatro quilômetros de estrada de cavaco de madeira cortando as dunas. O coordenador do Programa Costa Sul, professor Paulo Roberto Tagliani, da Furg, informou que o problema já foi levado ao promotor Francisco Simões Pires. Na última segunda-feira, houve uma reunião do Conselho Ambiental do Plano de Manejo da Ilha para tratar do assunto. O Programa Costa Sul é que elaborou o Plano de Manejo da Ilha dos Marinheiros.
Mobilização
O promotor não pôde comparecer à reunião, segundo Tagliani, mas está elaborando um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) a ser assinado entre o Ministério Público e a Flopal para resolução deste conflito. E enviou ao Conselho um rascunho do TAC para avaliação. O Conselho formou uma subcomissão para analisar o documento e, se necessário, aperfeiçoar. "O Conselho quer se posicionar neste TAC. Esse, no momento, é o principal problema ambiental da ilha", relatou Tagliani.
Conforme ele, os ilhéus querem a retirada total dos pínus, dentro de um prazo razoável; a retirada das invasoras (pínus que se alastraram); e a recuperação total do ambiente. O Conselho Ambiental é formado por dois representantes de cada setor da Ilha dos Marinheiros, por representantes da Prefeitura Municipal, Furg, Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema) e Sociedade Marinheirense de Desenvolvimento Sustentável.
(Por Carmem Ziebell, Jornal Agora, 15/01/2007)
http://www.jornalagora.com.br/site/index.php?caderno=19¬icia=26070