Transformar um canavial de 2 hectares em uma fazenda com mais de 80 espécies de plantas, incluindo exemplares nativos da Mata Atlântica, grãos, pés de frutas e leguminosas, como feijão, milho, laranja, abacaxi, pupunha e mandioca. Essa é uma das façanhas de um projeto que busca disseminar entre pequenos agricultores de Pernambuco o sistema agroflorestal, que prevê a produção de diversas culturas em meio à mata nativa da região. Além de ajudar a preservar o meio ambiente, a técnica tem a vantagem de garantir parte do sustento das famílias e de gerar renda com a venda do excedente da produção em feiras de produtos agroflorestais.
A capacitação dos agricultores é feita pela organização não-governamental Sabiá, que começou a desenvolver o trabalho em 1993, com dez produtores do agreste e da zona da mata pernambucana. Ao longo dos últimos 13 anos, a divulgação das técnicas do modelo agroflorestal, inclusive com a ajuda dos agricultores atendidos, fez com que o número de beneficiados diretos da iniciativa chegasse hoje a 400 famílias em 15 municípios. A assessoria oferecida pelo projeto vai desde orientações ecológicas (como conciliar, por exemplo, as culturas tradicionais e a vegetação nativa) até instruções sobre administração (como os produtores podem se organizar em associações e vender o excedente de forma mais lucrativa).
“Nós orientamos os agricultores desde como eles podem diversificar a produção para melhorar sua segurança alimentar, até como eles podem formar associações para vender a produção a um preço mais alto, sem depender de atravessadores”, afirma o coordenador técnico do Sabiá, Alexandre Henrique Pires. Segundo ele, a maioria dos produtores que entraram no projeto ficou menos vulnerável às mudanças de mercado. “Houve inclusive um caso interessante de uma família que deixou de produzir só cana e passou a cultivar mais de 80 espécies de plantas nativas e agrícolas. Com isso, ela deixou de ficar refém da usina”, conta.
O sucesso do projeto nas comunidades atendidas acabou por gerar a necessidade de criar um meio para os agricultores comercializarem o excedente da produção. A solução surgiu quase que por acaso. Convidados para um evento sobre agroecologia, agricultores beneficiados pelo projeto levaram frutas, legumes e grãos para expor em uma banca e acabaram vendendo a mercadoria. “A receptividade motivou as famílias a voltarem depois de 15 dias. Depois em uma semana. E de novo. Até que hoje o local abriga toda semana uma feira de produtos agroflorestais”, conta Pires.
A primeira feira agroflorestal inspirou agricultores de outras regiões a organizarem uma ação semelhante, e esse modelo de comércio foi se espalhando por diversas comunidades atendidas pelo projeto. “Formamos grupos de agricultores e os levamos para conversar com esse primeiro grupo. A partir daí eles, foram se organizando e comprando as barracas para montar as feiras”, lembra Pires. Hoje, existem 25 feiras agroecológicas em Pernambuco, cinco delas assessoradas pelo Sabiá.
No ano passado, o Ministério do Meio Ambiente avaliou que o Sabiá tinha muito a ensinar a outras iniciativas agroflorestais e decidiu transformar o projeto em uma publicação. A experiência com os agricultores pernambucanos virou um dos sete cadernos lançados em dezembro pelo PDA (Projetos Demonstrativos), com o apoio do PNUD, da Fundação Banco do Brasil, da Cooperação Técnica Alemã e do Instituto Internacional de Educação do Brasil.
(Por Alan Infante,
Agência PNUD, 12/01/2007)