Lama pode deixar 100 mil pessoas sete dias sem água no Rio
passivos da mineração
desastre de cataguases
gestão de substâncias químicas
2007-01-12
A Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) estimou nesta quinta-feira (11/1) que cerca de 100 mil moradores de cinco municípios do noroeste fluminense ficarão, em média, de 6 a 7 dias sem água por causa da chegada da lama despejada pela mineradora Rio Pomba Cataguases, em Miraí (MG), no Rio Fubá, após o rompimento de um dique. Vazaram 2 bilhões de litros de lama misturada com bauxita e sulfato de alumínio.
Segundo o presidente da companhia, Wagner Victer, a previsão é de que a lama atinja na noite desta quinta-feira o município de Laje do Muriaé, a 360 quilômetros da capital.
Na manhã de ontem (11/1), o prefeito de Laje do Muriaé, José Geraldo Pereira de Carvalho, decretou situação de emergência na cidade, por conta da enchente provocada pela subida do nível do Rio Muriaé, em função da grande quantidade de lama na água. Já os municípios vizinhos abastecidos pelo rio ( Itaperuna, São José de Ubá, Cardoso Moreira e Italva) só devem ser afetados a partir de hoje (12/1).
Carvalho mobilizou 13 carros-pipa para transportar água mineral de uma fonte da localidade de Panorama para abastecer a população. A prefeitura vem auxiliando na retirada dos móveis e dos objetos das pessoas desalojadas. O centro da cidade está sem comércios e bancos, as ruas, alagadas, e o trânsito de carretas e caminhões pesados e carros particulares foi totalmente interrompido.
Chegada da lama
O presidente da Cedae declarou que, até o fim da tarde, a situação estava sob controle no Rio. "A lama ainda não chegou ao Estado em razão da baixa velocidade da água, mas já tomamos as medidas preventivas", disse o presidente da Cedae, em entrevista coletiva concedida no fim da tarde, na sede da companhia, no centro da cidade. Victer pediu que a população economize água.
"Estamos orientando as pessoas a acumularem água e, depois que o abastecimento for interrompido, reduzir o consumo."
De acordo com ele, o nível de turbidez da água do Rio Muriaé, que abastece os cinco municípios, estava 200 vezes acima do "limite máximo aceitável, o que pode causar a mortandade de peixes e afetar a agricultura da região". A avaliação foi feita na madrugada de ontem por técnicos da Cedae. "O acidente é muito maior do que foi divulgado anteriormente e mais grave do que imaginávamos." Victer garantiu que a população desses municípios não corre risco de consumir água poluída. "O risco é nenhum, pois na hora em que a água estiver sem condições de uso, será automaticamente suspensa e entraremos com o sistema de carros-pipa."
Ele considera difícil a mancha atingir o município de Campos, mas já entrou em contato com o prefeito Alexandre Mocaiber para deixá-lo em estado de alerta.
Impacto à população
Para reduzir o impacto do acidente ambiental no Estado, a Cedae montou em Lajes do Muriaé um laboratório móvel para fazer a análise da água a cada meia hora e deslocou a diretoria do Interior da companhia para lá. Cinqüenta técnicos trabalham no local.
A companhia criou também um "sistema detalhado" para os cinco municípios e modificou em São José de Ubá o local de retomada da água do manancial (fonte de abastecimento). Com a ajuda da Companhia de Saneamento de Minas (Copasa), a Cedae disponibilizou 38 carros-pipas para os cinco municípios. Em Itaperuna, cuja população é composta por 80 mil habitantes, há um mapeamento de hospitais, escolas e creches que precisam ser atendidos com prioridade. Só nessa região foram destinados 20 carros-pipas. "Nos outros municípios vamos abastecer toda população. A única dificuldade é o acesso às estradas, castigadas em razão das fortes chuvas que atingem o Estado (desde o último dia de 2006) ", disse Victer.
Depois da reunião com o presidente da Cedae, o secretário de Meio Ambiente do Estado, Carlos Minc, contou que pediu apoio do governo "para enfrentar a situação". "A ministra Marina Silva (do Meio Ambiente) ligou preocupada com a situação. Pedimos apoio para enfrentar o problemas e ela nos garantiu isso".
Com base no último acidente - há dez meses, 400 milhões de litros vazaram da mesma barragem -, o secretário ressaltou que pode haver cromo e alumínio entre os resíduos, o que pode provocar doença de pele e até câncer. A declaração gerou mal-estar entre Minc e o presidente da Cedae. "Não há nenhuma evidência de metal na água. Ele pegou indicadores do acidente anterior. A gente tem de acalmar a população. Posso garantir que eles só vão consumir água de qualidade", afirmou Victer.
(Por Bruno Lousada, O Estado de S. Paulo, 11/01/2007)
http://www.estadao.com.br/ultimas/cidades/noticias/2007/jan/11/348.htm