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contaminação com agrotóxicos
2007-01-12
Crianças nascidas com má formação genética, responsável até por mortes; crianças com problemas de fígado que nem transplante resolve; homens com impotência sexual, que se suicidam; e mulheres sem nenhum desejo sexual. Cânceres. O quadro de horrores não pára aí e é registrado na comunidade pomerana e alemã de Mata Fria, na divisa de Afonso Cláudio com Santa Maria de Jetibá/ES.

E trata-se de apenas de uma pequena amostra dos efeitos dos venenos agrícolas ou pesticidas no Brasil. O relato sobre a Mata Fria é do pastor luterano Siegmund Berger, hoje em trabalho pastoral e educacional em Serra Pelada, no município de Afonso Cláudio.

Por quase duas décadas ele realizou trabalho semelhante em Garrafão, no município de Santa Maria, comunidade vizinha da Mata Fria, onde fundou a Escola Família Agrícola (EFA), que ministra cursos de ensino fundamental entre a quinta e oitava séries, e de técnico em agricultora orgânica.

A Mata Fria é uma comunidade com cerca de 2.000 moradores, pomeranos e alemães em sua maioria. Informa o pastor que, quando chegou na região, em 1987, o problema do uso dos venenos agrícolas não era tão grande na localidade de Mata Fria.

Mas se acentuou a partir do ciclo do alho, entre os anos 1982 a 1987, com auge em 86/87, quando os preços do produto atingiram preços estratosféricos. O uso dos venenos se mantém alto na comunidade, embora a produção tenha se diversificado.

"Como pastor ouvi depoimentos que comumente não são feitos. Pessoas que usavam agrotóxicos e se tornaram impotentes sexuais. De casos de frigidez provocados por venenos agrícolas. Também vi casos de crianças nascidas mortas que apresentavam claras deformações genéticas. E crianças com doenças de fígado, que nem o transplante resolveu", afirmou Siegmund Berger.

Todas as doenças provocadas por uso dos venenos agrícolas. E na região, entre outros doenças, também se registram casos de câncer causados pelos pesticidas. Na fronteiras dos municípios de Santa Maria de Jetibá com Afonso Cláudio, a assistência só vem, mesmo, de Santa Maria.

Há o trabalho da Certificadora Chão Vivo, cuja sede é em Santa Maria, no sentido de conscientizar os agricultores sobre os problemas causados pelo uso dos venenos agrícolas, e da prefeitura. Siegmund Berger disse não conhecer nenhuma ação da prefeitura de Afonso Cláudio sobre o uso de venenos na comunidade de Mata Fria.

A intensidade do problema já é conhecida. A região foi pesquisada por Sônia Missagia, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). No ano passado, ela apresentou os números em palestra com o título "Suicídio entre lavradores pomeranos, pelo uso do agrotóxico".

A palestra foi para o Fórum Permanente Estadual de Proteção ao Meio Ambiente do Trabalho no Estado do Espírito Santo (Fepmat), na sede do Ministério Público do Trabalho (MPT). Mas a pesquisadora não permitiu sequer o acompanhamento da imprensa.

A indústria dos agrotóxicos fatura no Brasil cerca de R$ 10 bilhões (US$ 4,5 bilhões) por ano. Ganha com venenos que intoxicam 500 mil brasileiros por ano, dos quais 10 mil morrem e chama seus venenos de "defensivos agrícolas".

Dos intoxicados por venenos agrícolas, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no país. O Espírito Santo é o terceiro estado do país no consumo por pessoa dos venenos.

No Estado, os venenos agrícolas contaminam e matam não só pomeranos: também são vítimas quilombolas do norte do Estado, índios e pequenos agricultores. Afetam a saúde dos consumidores, embora os números desta contaminação não sejam conhecidos.

Onze de janeiro é o Dia do Controle da Poluição por Agrotóxicos.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário - ES, 11/01/2007)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2007/janeiro/11/noticiario/meio_ambiente/11_01_09.asp

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