Palmitos: preservação e lucro
2007-01-11
O juçara é conhecido como o mais nobre e saboroso dos palmitos. Falar sobre o consumo desta espécie ameaçada de extinção, entretanto, é sempre um assunto delicado. Mas não quando a conversa é com o agricultor Jorge Tuzino, de 82 anos. Andar pelos 25 hectares de seu campo experimental de palmeiras, a maioria da espécie Euterpe edulis (que produz o palmito juçara), em Miracatu, no Vale do Ribeira (SP), é como estar em plena mata atlântica.
Tuzino é defensor da preservação do palmito e disseminador de técnicas de manejo sustentável da espécie juçara. Tanto que, mesmo sem ajuda oficial, nos últimos anos ele se dedica a pesquisas para melhorar o híbrido do palmito juçara, obtido com o cruzamento do juçara com o açaí. 'É uma forma de tornar viável comercialmente a produção de palmito e também de tentar reduzir a extração ilegal.'
Vantagens
O produtor explica que o híbrido tem algumas vantagens, como precocidade, qualidade e quantidade. Precocidade porque a extração pode ser feita a partir do quarto ano (ante oito do juçara puro); qualidade porque o palmito híbrido herdou o sabor nobre do juçara e quantidade porque produz até quatro vezes mais.
Ao contrário do juçara nativo, que produz apenas uma haste, o híbrido dá até dois palmitos por muda. A única desvantagem é que a planta do híbrido não dá os frutos, os açaís, que também podem ser vendidos.
O produtor Tuzino ensina que, para instalar uma plantação de palmito sustentável, a melhor forma é o plantio consorciado entre a espécie açaí e a do híbrido juçara/açaí. Neste sistema a cultura principal, para daqui a sete anos, seria a fruta do açaí. Faz-se, inicialmente, o plantio das palmeiras de açaí no espaçamento de 2 por 3 metros (ruas). Entre as ruas, plantam-se as mudas do híbrido. Para cada 2,4 hectares, ele sugere o plantio de 10 mil mudas do híbrido de juçara e 4 mil de açaí.
Boa renda
Com essa quantidade, garante, dá para colher 20 mil hastes de palmito da espécie híbrida, já que, entre o quarto e o sétimo anos de plantio, dá duas hastes por muda. 'A indústria paga R$ 4 por palmito, o que dá uma renda de R$ 80 mil. Isso já paga todo o investimento da plantação.'
O investimento é a compra de sementes ou mudas, o preparo do terreno para o plantio e a mão-de-obra envolvida na atividade. 'O palmito não precisa de adubação, nem de pulverizações, ou seja, não tem custo de produção e nem de mão-de-obra.'
O produtor vende cada muda por R$ 1. As sementes saem mais em conta, cerca de R$ 15 o quilo (1 quilo tem entre 800 e mil sementes). Para cada 2,4 hectares, são necessários 20 quilos de semente. Mas neste caso o produtor precisa fazer a muda, o que requer construir estufas.
Após colher os palmitos do híbrido, a planta pode ser retirada, ficando apenas as palmeiras de açaí. A partir daí, no sétimo ano, o açaizeiro entra em produção. Deixando três touceiras por árvore, é possível colher em torno de 5 quilos de polpa de açaí por ano, a partir do sétimo ano de plantio. A indústria paga, em média, R$ 8 o quilo da fruta. 'E ainda há os brotos de palmito, que dão novos palmitos a cada dois anos, e as sementes.'
Tuzino conta que a idéia de desenvolver o híbrido surgiu na década de 60, quando esteve na Amazônia, onde conheceu a palmeira de açaí. 'Vi que as flores eram idênticas às da palmeira juçara', diz. O produtor trouxe algumas mudas para São Paulo. 'As abelhas fizeram a polinização e assim consegui sementes de uma nova espécie, um híbrido de juçara com açaí.'
Bananicultor
Antes de se dedicar às experiências com palmito, Tuzino era produtor de banana. 'O Vale do Ribeira sempre foi muito pobre e queria ajudar os produtores daqui.' Foi então que começou a prestar atenção ao palmito, nativo da mata. 'Mas queria disseminar a produção de forma sustentável e não extrativa, como ocorre até hoje', lamenta.
Além da floresta experimental, onde ensina aos produtores interessados as técnicas de manejo sustentável e produz as mudas híbridas (vende cerca de 200 mil por ano), Tuzino tem outras áreas de plantio comercial de palmito. São três propriedades com 135 hectares no total. 'Antes eram bananais', diz. 'Ainda não cortei nada, porém. Temos muitos problemas com ladrões. No ano passado derrubaram 5 mil palmeiras de minhas propriedades', lamenta.
O produtor Haruhiko Kishino, de Miracatu, foi um dos primeiros a experimentarem o plantio consorciado. 'A vantagem do sistema é a resistência ao clima', diz. 'O híbrido e o açaí agüentam lugares mais úmidos do que o palmito pupunha, que não agüenta as áreas úmidas e alagadas do Vale do Ribeira.' Por isso, ele acredita que se o produtor puder esperar no mínimo quatro anos pelo desenvolvimento da cultura estará fazendo um ótimo negócio. 'Mesmo porque o juçara, até o híbrido, tem maior valor no mercado.'
(Por Niza Souza, O Estado de S. Paulo, 10/01/2007)
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