O maestro brasileiro João Carlos Martins — que, como pianista, foi considerado um dos melhores interpretes de Bach do mundo — realizará uma série de concertos para estimular os apreciadores de música clássica a contribuírem financeiramente com o principal projeto de preservação da Amazônia. A primeira apresentação aconteceu no último sábado (06/01), quando ele regeu a Orquestra Bachiana de Câmara, formada por músicos brasileiros, em uma das principais casas de espetáculo de Nova York, o Carnegie Hall.
O concerto abriu uma temporada de exibições que percorrerá a Europa em busca de financiadores para o programa de preservação da Floresta Amazônica desenvolvido pelo governo brasileiro. A turnê faz parte do projeto "Amazon Forever" (Amazônia para Sempre), idealizado pelo próprio maestro. Já estão previstas apresentações na Bélgica e em Mônaco. “A idéia é sensibilizar o público apreciador de música clássica, que em grande parte é formado por pessoas de renda elevada, para conseguir doações para a Amazônia”, resume Martins.
As apresentações do maestro brasileiro visam fortalecer a imagem e angariar recursos para o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA, na sigla em inglês), que é considerado o maior projeto de preservação do mundo. O programa pretende consolidar um sistema de áreas de proteção que abrangerá 500 mil quilômetros quadrados de floresta, o equivalente aos territórios de São Paulo e Piauí somados.
Para transformar essas áreas em unidades de conservação, a iniciativa — coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente, com o apoio do GEF (Fundo para o Meio Ambiente Global, na sigla em inglês) e do WWF-Brasil (Fundo Mundial para a Natureza, também em inglês) — pretende investir US$ 400 milhões em dez anos.
A criação do Amazon Forever é mais um capítulo na biografia de João Carlos Martins. O pianista, que ganhou projeção mundial como intérprete do compositor barroco Johann Sebastian Bach, perdeu o movimento das mãos e teve que abandonar os palcos em 2001. Há três anos, ele decidiu que iria aprender a reger orquestras e começou a estudar. Mesmo sabendo que não conseguiria segurar a batuta ou virar as páginas das partituras, seguiu em frente — ele memoriza as notas das músicas para as apresentações. Essa história tornou o concerto de Nova York simbólico também por outro motivo: foi a estréia de Martins como maestro no Carnegie Hall e foi a primeira vez que uma orquestra sinfônica brasileira se apresentou na casa de espetáculos nova-iorquina.
O Amazon Forever vem na esteira de um projeto social que o maestro desenvolvia desde 2003 com jovens carentes da cidade de São Paulo, a Orquestra Bachiana Jovem, formada por crianças e adolescentes de baixa renda. “Quem me sugeriu que eu começasse a fazer alguma coisa pelo meio ambiente foi o [empresário] Ricardo Bellino. Ele me disse: 'Não está na hora de você se ligar ao meio ambiente?’. Foi aí que eu comecei a pesquisar qual era o quadro da Amazônia, como era a atuação da Marina Silva, para decidir como iria apoiar”, conta.
A decisão do maestro veio após uma reunião com a ministra do Meio Ambiente. “Quando resolvi apoiar o ARPA fui ao maior designer vivo do mundo — o Milton Glaser, que fez o logo da campanha I Love New York — para fazer o logo da Amazon Forever. Conseguimos patrocínio da Nokia e da TAM e organizamos o concerto em Nova York”, relata Martins. “Colocamos os ingressos a US$ 1, porque o objetivo era lotar a casa. É melhor chamar a atenção de potenciais doadores com um concerto no Carnegie Hall pela Amazônia do que arrecadar US$ 15 mil com uma apresentação discreta”, afirma.
Após a temporada européia, o maestro pretende voltar ao Carnegie Hall em setembro de 2008 para uma nova apresentação. “Temos que sensibilizar as pessoas sobre a importância da Amazônia. No sábado [6 de janeiro], a temperatura em Nova York era 21ºC positivos. Quando, nesse época do ano, Nova York registrou uma temperatura dessas? Isso é resultado do aquecimento global e está relacionado ao desmatamento da Amazônia”, afirma.
(Por Alan Infante,
Agência PNUD, 10/01/2007)