Degradação ameaça proposta de proteção de lixo nuclear
2007-01-11
Minerais que deveriam isolar lixo nuclear da natureza por centenas de milhares de anos podem sofrer colapso estrutural em 1.400 anos, de acordo com trabalho publicado na edição desta quinta-feira, 11, na revista científica Nature. O novo estudo usou ressonância nuclear magnética para mostrar que os efeitos da radiação do plutônio, incorporado no mineral zircão, degrada rapidamente a estrutura cristalina do minério. Isso poderia levar a inchaço, perda de força física e possíveis rachaduras no mineral em até 210 anos, muito antes de a radioatividade ter se reduzido a níveis seguros, diz o principal autor do estudo, Ian Farnan.
De acordo com teorias atuais, substâncias altamente radioativas poderiam ser parcialmente neutralizadas pela combinação, antes do armazenamento definitivo, com vidro ou outro mineral sintético, a temperatura elevada, para a formação de cristais. No entanto, a estrutura cristalina só é capaz de conter os elementos radioativos por algum tempo. Dentro do cristal o decaimento radioativo continua a ocorrer. Fragmentos atômicos chamados partículas alfa são disparadas pelo núcleo em decaimento, que recua, numa espécie de coice. Tanto a partícula alfa quanto o recuo do núcleo atacam a estrutura, até que ela se desfaz.
Isso pode aumentar a probabilidade de vazamento nuclear, mas um dos co-autores do trabalho, William J. Weber, adverte que o estudo não tratou dessa questão específica, e que os pesquisadores não encontraram rachaduras. Weber notou que o zircão "amorfo", ou estruturalmente degradado, pode se manter intacto por milhões de anos e é um dos materiais mais duráveis da Terra.
(Estadão, 10/01/2007)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2007/jan/10/285.htm