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2007-01-10
O número não é preciso, mas é grande: segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a diversidade de plantas no Brasil gira em torno de 50 mil espécies. Para evitar que aquelas com elevado potencial de mercado se tornem conhecidas no exterior antes de serem exploradas por aqui, a entidade decidiu relacionar alguns destaques.

O resultado são 775 espécies, chamadas de “plantas do futuro”. O trabalho de identificação, que acaba de ser finalizado, durou dois anos e foi realizado por equipes de agrônomos e biólogos coordenadas pelo MMA nas cinco regiões do país. Espécies desconhecidas ou que já estejam sendo exploradas pela economia regional, apesar de ainda não alcançarem projeção de mercado em âmbito nacional, tiveram preferência na escolha.

“A lista será usada para subsidiar políticas nacionais de conservação e de uso sustentável”, disse Lídio Coradin, coordenador da área de Recursos Genéticos da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do MMA.

“Como essas plantas representam boas oportunidades de negócio, a intenção é que a lista incentive a criação de novos mercados produtores e também de tecnologias que garantam a disponibilidade das espécies à altura da produção comercial”, explicou.

Com a fase de levantamento concluída, os detalhes técnicos e os potenciais econômicos de cada espécie serão divulgados junto a produtores e empresários. De acordo com Coradin, o trabalho contará com o lançamento de cinco publicações, cada uma representando uma região do país, no segundo semestre.

“Temos a maior biodiversidade do planeta, capacidade técnica instalada e competência em recursos humanos, mas ainda falta articulação entre pequenos produtores, empresários e instituições de pesquisa”, afirmou o engenheiro agrônomo.

Além de incentivar essa articulação e atrair novos investimentos ao setor, os livros servirão de base para diferenciar plantas prontas para serem exploradas pelo setor empresarial e as que ainda precisam de alguma atividade de pesquisa.

A lista completa das espécies, que foram divididas por grupos de uso – como ornamentais, alimentícias e frutíferas, fibrosas, medicinais, aromáticas e adequadas para a fabricação de óleos – será publicada no início de fevereiro no site do MMA, que planeja ainda uma série de seminários regionais para apresentar potencialidades desses recursos naturais aos diferentes segmentos da sociedade.

Falta de cultura de valorização
Há vários exemplos de valorização externa antes da interna. Lídio Coradin lembra que empresários da Nova Zelândia produzem atualmente sucos, biscoitos, geléias, óleos e até espumante com uma fruta nativa do Brasil: a goiaba serrana (Acca seloviana). “Mais de 20 produtos já foram lançados. Esse é um exemplo típico de planta que foi negligenciada ou subutilizada no Brasil e está gerando riqueza em outro país, apesar de ser conhecida nacionalmente há mais de 50 anos”, disse.

Além da goiaba serrana, a pupunheira (Bactris gasipaes), uma palmeira de clima tropical em que todas as partes podem ser aproveitadas economicamente, em especial seu fruto (pupunha) e o palmito, é outra espécie de interesse que integra a lista.

“Ela é uma das plantas mais versáteis, chegando a produzir cinco toneladas de palmito por hectare sem necessidade de eliminar suas mudas, como ocorre normalmente com outras espécies”, disse Coradin. Várias hastes de palmito são produzidas em uma mesma muda, o que permite a colheita enquanto a planta produz novas hastes.

Segundo o coordenador da área de Recursos Genéticos da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do MMA, um único fruto de pupunha chega a produzir 16% de proteína, o que o torna viável para a produção de bolos e tortas em substituição ao trigo, além de poder ser frito e servido como aperitivo. A produção de biodiesel também seria outra aplicação viável.

“Vários estudos comprovam que a pupunheira é capaz de gerar quase 20 toneladas de óleo por hectare para a produção do biodiesel. A soja, que não é uma cultura nativa do Brasil, produz apenas 500 litros de óleo por hectare”, compara.

Açaí (Euterpe oleracea), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), bacuri (Platonia insignis), murici (Byrsonima sericeae) e camu-camu (Myrciaria dubia) são algumas espécies que também fazem parte da lista.

“Algumas delas já estão sendo exportadas, como o açaí e o cupuaçu. Mas ainda precisamos criar uma cultura de valorização do que é produzido em território nacional. É só olhar para a maioria dos hotéis brasileiros, por exemplo, que preferem servir frutas exóticas ou não nativas do Brasil, como melão, kiwi, melancia ou mamão”, afirma Coradin.
(Por Thiago Romero, Agência Fapesp, 10/01/2007)

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