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2007-01-10
Embora o buraco da camada de ozônio, que se abre em cada primavera na Antártida, encontre-se temporariamente “tapado”, todas as regiões do Chile registram este mês altíssimos níveis de radiação ultravioleta. A camada de ozônio cobre a Terra a uma altitude ente 15 e 30 quilômetros de sua superfície e protege todos os organismos vivos dos efeitos prejudiciais dos raios ultravioletas (UV). Anualmente, no entanto, entre setembro e novembro, essa camada se afina em uma ampla extensão que inclui as regiões austrais da Argentina e do Chile, onde a radiação ultravioleta aumenta 25%.

Segundo a Administração Nacional Atmosférica e Oceânica (NOAA) da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), entre 21 e 30 de setembro, o buraco atingiu os 27,5 milhões de quilômetros quadrados, em média, a maior abertura da história, gerando um sério risco para a população. Entretanto, o decano da Faculdade de Ciências da Universidade do Chile (estatal), Raúl Morales, explicou à IPS que quando o buraco antártico se reduz começa a fase mais perigosa para a saúde dos habitantes da Argentina, Austrália, Chile e Nova Zelândia.

“Nos meses de novembro, dezembro e janeiro se produz uma transferência de massa de ozônio desde as zonas mais próximas do trópico até o Pólo Sul, que viaja com o afã de cobrir a deficiência (produzida pelo buraco antártico)”, disse o especialista. Ao contrário do que ocorre com o buraco da camada de ozônio, que somente inclui a zona austral do Chile, “o efeito de diluição”, como também se conhece está transferência de massa, afeta todas as regiões do país, destacou Morales.

Segundo o último informe da Direção Meteorológica do Chile, de fato o buraco da camada de ozônio desapareceu no dia 9 de dezembro, mas, durante janeiro e fevereiro, em condições de céu claro (ou seja, quase todos os dias) serão atingidos os índices superiores – muito alto e extremo – de radiação ultravioleta. Por isso recomenda-se à população que durante as férias tome todas as precauções disponíveis, isto é, evite se expor ao sol entre 10 e 16 horas, cubra o corpo, use cremes com filtros UV, disse Morales.

Cuidado especial devem ter as pessoas que trabalham ao ar livre – agricultores, pescadores – e as que estão de férias no campo, na montanha ou no litoral, já que a água, a areia e a neve refletem e aumentam os raios ultravioletas. “Creio que é necessário gerar uma cultura da proteção solar. No Chile sempre existiu a cultura de se bronzear”, particularmente entre mulheres jovens, “o que é muito prejudicial para a pele”, destacou o especialista.

Além de câncer de pele, a exposição prolongada aos raios ultravioletas pode causar lesões oculares, como cataratas, e diversas infecções devido ao enfraquecimento do sistema imunológico. Os raios ultravioletas B são os mais perigosos e seus efeitos são acumulativos. Nancy Ortiz, da estatal Corporação Nacional de Câncer (Conac), disse à IPS que o tumor maligno de pele aumentou 100% nos últimos 10 anos no Chile, sendo o mais significativo em termos de prevalência no país. Calcula-se que 10 em cada cem mil chilenos sofrem atualmente deste mal, número que está aumentando.

Por essa razão, a Conac criou em 2001, junto com o Departamento de Física da estatal Universidade de Santiago, a Rede Nacional de Medição Ultravioleta, que informa diariamente sobre os índices registrados em todas as regiões do país. Em 2002, estabeleceu a Rede Nacional de Solmáforos, medidores instantâneos de raios UV instalados em balneários e locais públicos. No final do ano passado, lançou uma forte campanha de informação dirigida principalmente às crianças. Uma das ações realizadas foi colocar à venda uma pulseira fotosensível que avisa quando o sol é perigoso para a pele.

Segundo Ortiz, a pulseira teve tanto sucesso no país que chegou a ser solicitada por países latino-americanos, europeus e, inclusive, pelos Estados Unidos. Além disso, em março passado foi promulgada a lei 20.096 para implementar adequadamente o Protocolo de Montreal, assinado e ratificado pelo Chile em 1990. Este convênio de 1987 assinado por 184 nações foi projetado para fazer a camada de ozônio voltar ao normal, eliminando paulatinamente o uso de clorofluorocarbonos (CFC) e outra centena de produtos químicos que destroem as moléculas do ozônio atmosférico.

Está comprovado que essas substâncias, principalmente o CFC, presentes em diversos produtos, como refrigeradores, freezer e equipamentos de ar-condicionado, destroem este manto protetor natural. A lei, considerada por Morales e Ortiz como “um pouco tardia”, também estabelece um conjunto de medidas de difusão e prevenção social. Por exemplo, dispõe que os meios de comunicação devem incluir em seus informes meterológicos antecedentes sobre a radiação ultravioleta, o que está sendo feito. Morales acredita que a população chilena se conscientiza cada vez mais sobre este problema.

Entretanto, considera que a chave é a educação ambiental de crianças e jovens nas escolas primárias e secundárias, o que ainda é incipiente. “A educação ambiental é um conceito que envolve a geração de hábitos. Por isso, é importante que todos estes conhecimentos sejam transferidos sistematicamente pelos professores aos seus alunos, principalmente nos meses de agosto e setembro”, disse o especialista da Universidade do Chile. “Praticamente, toda a dose de radiação solar de nossa vida nós a tomamos entre os 2 e 18 anos, porque durante esse período estamos mais tempo expostos ao sol, com exceção de quem trabalha ao ar livre. Quando adultos, vivemos protegidos do sol nos escritórios e em casa”, explicou Morales.

Alfonso, de 59 anos, trabalha como motorista de caminhão na capital do Chile, o que o obriga a passar a maior parte do dia na rua, debaixo do sol. Ele disse à IPS que sabe do perigo da radiação UV, por isso aplica todos os dias um dos cremes protetores disponíveis no mercado. Da mesma forma, Carolina Arredondo, engenheira de informática de 28 anos, diz saber quais são os riscos aos quais se expõe tomando sol, por isso também utiliza, especialmente no verão, uma pomada que bloqueia os raios UV. Morales disse que as últimas pesquisas indicam que a camada está se recuperando e que, se os países deixarem de usar as substâncias que esgotam o ozônio desse manto protetor, será possível voltar aos níveis normais em 50 ou 70 anos.
(IPS, 09/01/2007)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=26527&edt=1

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