Mesmo reconhecendo que o Aqüífero de Ingleses, que abastece a população do Norte da Ilha de Santa Catarina, está saturado, o presidente da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), Walmor de Lucca, diz que o manancial tem capacidade para fornecer água a novos empreendimentos projetados na região.
Segundo o presidente da Casan, o abastecimento de condomínios como o Residencial Vilas do Santinho I, que prevê a construção de 124 apartamentos em terreno próximo ao Costão do Santinho Resort, do mesmo empreendedor, será possível porque a Companhia está substituindo a captação de água do Aqüífero de Ingleses em algumas regiões pela água que vem do Rio Cubatão, no continente. Em dezembro, a Casan fez a interligação de dois bairros da Ilha com o rio Cubatão.
"Os compromissos que a Casan assumiu podem ser cumpridos na medida em que o Aqüífero de Ingleses está deixando de abastecer algumas regiões, então essa água está sobrando, como no caso dos bairros Santo Antônio de Lisboa e Saco Grande”, disse Lucca.
“Água sobrando” não é a expressão mais adequada para refletir a realidade do Aqüífero de Ingleses. O manancial tem capacidade de fornecer 400 litros de água por segundo, sendo que 310 litros são utilizados pela Casan. O restante é explorado por cerca de 6 mil poços clandestinos na região, como o AmbienteJÁ mostrou na matéria Superexploração condena aqüífero que abastece 130 mil pessoas em Florianópolis.
“Não sabemos quanta água se tira do aqüífero, presumimos que sejam 70 litros por segundo, mas esse número é apenas uma projeção”, reconhece o presidente da Casan. Lucca defende que a exploração indiscriminada deve ser combatida. “O aqüífero está no limite, não vamos abandoná-lo, porque é a melhor água do estado, mas que tem que haver controle. Vamos trabalhar para desenvolver políticas enérgicas de controle junto à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Sustentável e a própria agência Nacional de Águas para coibir a exploração clandestina.”
Segundo o presidente da Companhia, a exploração ilegal do manancial é feita tanto por famílias pobres quanto por grandes empresários. “Hoje temos condomínios de alto padrão e hotéis que não utilizam a água da Casan, mas têm poços. Tínhamos também o problema da favela do siri. Doamos 35 hectares de um terreno na Casan pra colocar essas pessoas. Nos grandes empreendimentos, é preciso que a Fatma [Fundação Estadual do Meio Ambiente] e a Floram [Fundação Municipal do Meio Ambiente] fiscalizem e punam as ligações irregulares.”, disse.
Falta de água no verão
Mesmo esgotando a capacidade do aqüífero, a quantidade de água retirada não é suficiente para abastecer a população no Norte da Ilha durante o verão. Turistas e moradores têm reclamado que a água só chega à noite. O presidente da Casan admite o problema, mas diz que é preciso respeitar os limites de fornecimento na região.
“O que não dá é para cinco famílias ficarem em uma casa, aí não há condições de abastecer. É claro que não queremos que os turistas deixem de vir a Florianópolis, queremos que o turismo se desenvolva, mas de forma racional. Se uma casa tem condições para cinco pessoas, só pode ser utilizada por cinco pessoas. Não dá para uma casa se transformar em pousada sem verificar as condições de abastecimento. A Casan tem hoje condições de abastecer 1,2 milhão de pessoas na Ilha de Santa Catarina, mas não é possível que todas essas pessoas vão para o Norte da Ilha”, critica.
Walmor de Lucca também rebateu dizendo que o turismo gera problemas de abastecimento todo lugar. “Existe problema de abastecimento no verão em todo o litoral do Brasil, o litoral norte de São Paulo tem problemas sérios de falta água, no litoral fluminense também, na região dos lagos. Até mesmo na cidade de Veneza, quando há um fluxo de turistas muito intenso, tem problema de água. O que não podemos é prever um sistema de abastecimento monumental que será utilizado durante 3 dias", justifica.
A Casan espera ampliar os serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto com o fechamento do contrato com a aplicação de R$ 180 milhões, recursos que poderão ser liberados até o final do ano pela Agência Japonesa para Cooperação Internacional (JBIC). Segundo o novo diretor de projetos especiais da Casan, Valmir Piacentini, ex-diretor de Expansão da empresa, "o sinal verde já foi dado pelo banco japonês, faltando apenas a aprovação do Congresso do Japão", disse. Ao todo poderão ser liberados US$ 216 milhões.
(Por Francis França, AmbienteJÁ, 09/01/2007)