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2007-01-09
Ainda são vendidos, na América Latina e em outros países, telefones celulares contendo materiais perigosos. Porém, graças a uma severa norma européia, cada vez mais aparelhos deixarão para trás, para sempre, o cádmio, o chumbo e outros tóxicos. Rígidas regulamentações, aprovadas em 2006 pela União Européia, forçaram os cinco principais fabricantes de celulares do mundo a eliminar materiais e outros componentes tóxicos de seus produtos.

“Em um ou dois anos, a maioria dos mais de um bilhão de novos celulares vendidos anualmente cumprirão os altos padrões europeus, mesmo se na maioria dos países não houver nenhuma restrição”, disse Zeina Alhajj, especialista em Tóxicos do Greenpeace Internacional. “O celular é um produto global com os parafusos fabricados na China, chips de silicone feitos na Malásia e cabos produzidos nas Filipinas”, explicou Alhajj ao Terramérica, de Amsterdã. “Seria muito complicado as grandes empresas produzirem telefones que atendessem a diferentes padrões, porque são fabricados seguindo as regulamentações européias, que são as mais severas do mundo”, acrescentou.

Cinco empresas – Nokia, Motorola, Samsung, LG e Sony Ericsson – fabricaram mais de 80% do bilhão de telefones vendidos em 2006, segundo o Worldwide Mobile Phone Tracker, da consultoria IDC. Nokia e Motorola são as líderes na América Latina. Um celular pode conter entre 500 e mil componentes, muitos incluindo metais pesados tóxicos, como chumbo, mercúrio e berílio, além de produtos químicos perigosos, como os retardadores de chama polibromados. O contaminante plástico PVC também é usado com freqüência para fabricar a carcaça e o teclado, e as baterias contêm cádmio, níquel e lítio.

No último verão boreal, entrou em vigor a norma européia denominada “Restrição de certas substâncias em equipamentos elétricos e eletrônicos (RoHS)”, que proíbe o mercúrio e o chumbo, entre outros. “Como resultado desta norma, vários celulares, que já não podem mais serem vendidos na União Européia, serão colocados nos mercados da China, Estados Unidos e América Latina”, disse Alhajj. Usar telefones que não cumprem a norma não gera preocupação sanitária, mas se acabam em lixões, as substâncias tóxicas podem se infiltrar no solo e na água subterrânea. Embora os celulares sejam pequenos, calcula-se que foram produzidos cinco bilhões e que a maioria já não está em uso.

“Boa parte do lixo eletrônico da América Latina acaba em depósitos a céu aberto”, disse ao Terramérica Keith Ripley, especialista em Regulamentações Ambientais da Temas Atuais, uma consultoria de assuntos públicos para a América Latina e o Caribe. “As baterias são uma dor de cabeça e as imitações ou do mercado negro são um problema ainda maior. Se parecem com as originais e são vendidas pela metade do preço, mas contêm quantidade muito grande de mercúrio”, disse Ripley. Este metal pode causar danos cerebrais e defeitos de nascimento. A maioria das empresas na América Latina tem programas de reciclagem de baterias, mas são pouco divulgados e poucos sabem sobre eles, afirmou.

Em novembro, a Motorola do México anunciou que coletará de seus clientes tanto baterias quanto celulares usados, sem custo, em 31 postos de todo o país. Serão enviados a uma empresa de reciclagem para recuperar componentes e metais valiosos, disse Mario Ocampo, representante da empresa, em uma declaração escrita. Na Europa, todas as companhias de celular são obrigadas a ter programas de coleta e reciclagem de baterias e telefones usados, segundo a norma “Resíduos de aparelhos elétricos e eletrônicos (RAEE)”, vigente desde 2005.

Entretanto, deveria ser priorizada a reutilização em lugar da reciclagem, disse Ripley, destacando que, no Brasil, a Vivo, a maior operadora do hemisfério sul, está criando quatro mil postos de coleta de celulares usados. Potencialmente, dezenas de milhões de telefones velhos serão enviados a uma empresa do Estado norte-americano de Michigan, chamada ReCellular Inc., que os classifica, limpa, testa e revende.

“Até 70% dos telefones que recolhemos podem ser revendidos. Temos programas similares nos Estados Unidos, na Venezuela e no Equador”, disse ao Terramérica Mike Newman, vice-presidente da ReCellular. A cada ano, a empresa coleta quase quatro milhões de telefones usados em todo o mundo, revende a maior parte por US$ 15, e recicla o restante. As operadoras, como a Vivo, pagam por cada telefone recolhido, e habitualmente esse dinheiro vai para organizações beneficentes locais. “Governos e ambientalistas estão dando mais atenção ao lixo eletrônico”, disse o executivo, e empresas como a Vivo enfrentam esta situação. Os telefones usados são vendidos em cerca de 30 países.

Aproximadamente dois bilhões de pessoas usam celulares, mas como 80% da população mundial não tem acesso a redes móveis e muitos não podem comprar aparelhos novos, há um enorme mercado para os usados, explicou Newman. A maior parte das pessoas não sabe o que fazer com seus telefones velhos e os joga no lixo. “Nosso maior desafio é a educar o público e motivar as pessoas a levarem seus telefones velhos aos locais de coleta. Impedir que a maior quantidade possível de celulares chegue aos lixões ou contamine o meio ambiente é o principal objetivo de nossos programas”, afirmou. A ReCellular também aceitará telefones por meio de seu site.

O melhor é ficar com os telefones até não funcionarem mais. Entretanto, os fabricantes continuam comercializando fortemente novos modelos, levando o usuário a conservar o seu por apenas 18 meses, disse Alhajj. Essa “vida útil” se reduz a cada ano, o que gera uma séria demanda de recursos naturais. “O próximo grande desafio é deter esta mercadologia e conseguir que as empresas fabriquem produtos que sejam tão verdes quanto modernos”, concluiu.
(Por Stephen Leahy, Terramérica, 08/01/2007)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=26481&edt=1

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