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2007-01-08
O presidente da Eternit, Hélio Martins, defende o aproveitamento do amianto. A empresa é líder no segmento de fibrocimento, composição de cimento e amianto usada em telhas, caixas d’água e outros itens de construção civil. Em entrevista à Agência Brasil, Martins contesta o número de processos atribuído à companhia e diz que material responde a necessidades do país. Afirma também que a jazida do mineral, em Minaçu (GO), suporta mais 50 anos de exploração.

Para garantir que confia no produto, declara: “Eu estou falando do meu sítio [a entrevista foi por telefone], e a caixa da água que os meus filhos bebem é de amianto”.

Agência Brasil: A auditora Fernanda Giannasi, do Ministério do Trabalho, informou que existem 4 mil casos diagnosticados de trabalhadores e ex-trabalhadores da Eternit e da Brasilit com ações na Justiça por terem contraído a doença do amianto. O senhor confirma?
Hélio Martins: Essas vítimas não existem. A doutora Fernanda tem duas funções, atua no Ministério do Trabalho e lidera uma ONG que milita na área [é a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto, Abrea]. Sempre foi solicitado que se apresentassem relações dessas pessoas, os nomes nunca apareceram e nunca apareceram ações dessas pessoas contra as empresas. Existe uma ação civil pública em São Paulo sem nomes, proposta pela Abrea.

ABr: Então a Eternit não tem nenhuma ação de trabalhador ou ex-trabalhador por conta dos efeitos da exposição ao amianto?
Martins: A Eternit tem ações contra ela de pessoas que já trabalharam na empresa, principalmente no período de 1940, 50 e 60, quando importávamos amianto anfibólio, não tinha o sistema de despoeiramento que a empresa tem hoje, que é um dos mais modernos do mundo. A empresa é modelo, tem o ISO-14000, tem OSO-8001 de saúde e segurança no trabalho. Isso são investimentos feitos ao longo dos últimos 30 anos. Em 66 anos de atividade no país, mais de 40 mil pessoas trabalharam conosco e temos entre 128 e 129 processos contra a companhia. Então, se falava em mil, depois 2.500 e, agora, se fala em um número novo, 4 mil, que eu nunca tinha ouvido.

ABr: Ela fala em 4 mil das duas empresas.
Martins: Essas pessoas não existem. Há um exagero em relação a esta questão, o Brasil é muito diferente do que foi na Europa, durante o processo de recuperação com o Plano Marshall [após a Segunda Guerra Mundial]. Trabalhamos, no Brasil, abaixo de 0,10 fibras por centímetro cúbico, e a legislação brasileira fala em 2 fibras por centímetro cúbico. Nós recebemos em um ano e meio 11 mil pessoas, médicos, cientistas, políticos, estudantes, que já visitaram as cinco fábricas da Eternit e a mineradora [a Sama, mineradora que explora o amianto no município goiano de Minaçu]. A fábrica de Goiânia é de 1971 e não tem nenhum caso de disfunção respiratória registrado. Nós temos prontuários dos trabalhadores, por legislação temos que acompanhar a saúde delas por 30 anos e nós fazemos isso. Ela nunca importou amianto anfibólio, sempre trabalhou com o crisotila. Você sabe que há um confronto de tecnologias com forte interesse econômico envolvido. Nós queremos que os cientistas digam se é possível trabalhar ou não. Nesse sentido, a USP [Universidade de São Paulo] vai fazer uma pesquisa.

ABr: Como vai ser essa pesquisa?
Martins: A USP deve coordenar uma pesquisa com duas universidades canadenses e universidades federais junto à população que utiliza os produtos (telhas e caixas d’água, por exemplo) para responder se existem doentes no Brasil por usá-los ou não. Deve começar em janeiro ou fevereiro, e acredito que até o final do ano vai dar essa resposta.

ABr: O Ministério da Saúde publicou uma portaria obrigando as empresas que utilizam o amianto a repassarem ao Sistema Único de Saúde listagem de funcionários expostos ao mineral, e vocês a questionaram na Justiça. Por quê?
Martins: Acontece que na lei que regulamenta a atividade não se fala no canal de distribuição. Essas leis não consideram a revenda, trabalham com produto onde a fibra está presa numa matriz de cimento. Todas as medições na mina, nas fábricas e até nos revendedores mostram que as fibras em suspensão estão muito abaixo do que a lei permite. O amianto está no ar, em dois terços da crosta terrestre. Essas leis que tentam proibir o amianto são inconstitucionais. Quem entrou no Supremo Tribunal Federal contra as leis estaduais que proíbem o amianto foram os próprios trabalhadores.

ABr: Quanto a cadeia do amianto movimenta no Brasil?
Martins: A Sama é a terceira maior mineradora do mundo. Ela produz 250 mil toneladas/ano para um volume mundial da ordem de 2,3 milhões de toneladas. Ela exporta mais de 60% do que produz, fornece para o mercado brasileiro. Das 12 empresas daqui, 11 trabalham com amianto crisotila. Para toda a cadeia produtiva, da mina ao produto aplicado, estimamos que existam 170 mil empregos diretos e indiretos, com faturamento de R$ 2 bilhões/ano. São números de 2005, e os de 2006 não estão fechados mas, sem dúvida, apresentou crescimento. É uma cadeia produtiva muito importante para a solução do déficit habitacional. Hoje se encontra no balcão uma telha de 1,22 metro quadrado por R$ 5 e R$ 6, é algo que, depois da lona preta, é o que a população carente pode comprar. Se essas telhas saem do mercado as opções vão de 20% a 80% mais caras.

ABr: Quais são os principais compradores do amianto crisotila no exterior?
Martins – A exportação é de fibras de amianto. Temos algumas exportações para Angola, Portugal. Para Portugal exportamos painéis, divisórias para mezaninos sem amianto, porque aquele país não usa material com amianto. Mas todos os países mais expressivos em desenvolvimento, como China, Índia, Tailândia, Indonésia e México, e muitos outros, o utilizam.

ABr: O senhor desvincula a decisão dos países europeus de banir o amianto de questões ligadas à saúde?
Martins: Acho que duas coisas levaram a União Européia a não utilizar mais o amianto: os problemas por ter utilizado o amianto antifólio e o fato de o produto não atender mais às necessidades. O uso que se fez no processo de reconstrução da Europa foi algo inconcebível. No jateamento de paredes os registros mostram que havia mais de mil fibras por centímetro cúbico, quando nós trabalhamos com 0,10. E se 40 países baniram, já eram países que não utilizavam mais. Suas reservas se exauriram e eles não tinham mais interesse econômico no produto.
(Por Marcos Chagas, Agência Brasil, 07/01/2007)
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/01/07/materia.2007-01-07.4025525913/view

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