Garimpo no AM atrai 3 mil em 20 dias
2007-01-08
Um garimpo recém-descoberto no sul do Amazonas já atraiu cerca de 3 mil pessoas em 20 dias. O prefeito da cidade mais próxima, Apuí, a 453 quilômetros de Manaus, teme que o garimpo traga malária à cidade - porque está ocorrendo desmatamento -, além de prostituição e drogas pela entrada de desconhecidos. “Os hotéis ficam lotados, o que poderia ser bom para o município, mas está assustando os moradores”, disse o prefeito, Antônio Roque Longo. O sul do Amazonas é a área mais desmatada do Estado.
Hoje o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) envia técnicos ao local do suposto garimpo clandestino, após solicitação de Longo. “Se forem cerca de 3 mil pessoas não teremos como tirá-las da área, mas sim tentar com o órgão federal que o garimpo possa ser legalizado e o desmatamento cesse”, disse o chefe de fiscalização em exercício do Ibama, Mário Jorge.
O garimpo fica cerca de 80 quilômetros ao norte de Apuí, às margens do Rio Juma, e foi descoberto pelos próprios habitantes da cidade. “Hoje, por exemplo, o hotel já está vazio: o pessoal chega de outras cidades, pernoita em Apuí e cedinho entra na mata com facão para acampar à beira do rio e fazer o garimpo. No fim de semana devem voltar para vender o ouro e gastar o dinheiro”, contou Cristiane Guido, recepcionista do Hotel Silverado, com 19 quartos, o maior dos dois hotéis do município.
“Não é difícil ter garimpos escondidos no meio da selva, mas este é aparente, basta ir às margens do rio. Depois que saírem da área, vai ficar o rastro de destruição”, disse o prefeito. Longo disse que assessores que estiveram no local afirmaram que a área explorada é pequena, de cerca de 3 mil hectares ao longo do Rio Juma, mas que está crescendo com o desmatamento.
De acordo com o geólogo Marco Oliveira, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), não há registros de garimpo legal na região, mas a área é rica em ouro. “Também há ouro detectado às margens de rios próximos ao Juma, como o Acari e o Guariba”, contou. Segundo ele, essas “corridas para o ouro” são comuns no período em que o metal está valorizado no mercado, como agora.
Fiscalização de férias
A reportagem tentou falar com o geólogo Fernando Burgos, chefe no Amazonas do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPR), mas uma secretária informou que ele está em férias e só retorna a Manaus no dia 25. O DNPR é o órgão federal responsável por legalizar e fiscalizar os garimpos no País.
Segundo o prefeito, pela BR-320, a Transamazônica, onde há quatro meses existe um pedágio sendo cobrado por indígenas da etnia tenharim, estão vindo garimpeiros de Rondônia, Goiás, Mato Grosso e Pará. “Todos passam pela sede do município para comprar mantimentos e bebidas alcoólicas”, afirmou Longo. “O pedágio foi nosso primeiro grito de socorro, agora é o garimpo, mas estamos aqui esquecidos pelo governo federal.”
(Por Liège Albuquerque, O Estado de S. Paulo, 05/01/2007)
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