Caviar negro do Mar Cáspio volta à mesa após um ano de proibição
2007-01-08
Os amantes do caviar negro podem comemorar: a ONU - Organização das Nações Unidas suspendeu a proibição de exportar as ovas do esturjão do mar Cáspio, que abriga 90% da produção mundial. A Cites - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestre anunciou as novas cotas para o comércio internacional em 2007 - sobre três das seis espécies de caviar. Rússia, Irã, Cazaquistão, Azerbaijão e Turcomenistão poderão exportar este ano até 89 toneladas de ovas de caviar negro e 250 toneladas de carne de esturjão, cuja demanda é também cada vez maior.
As novas cotas permitem exportar 27,6 toneladas de caviar de esturjão russo, 38 de esturjão pérsico e 20,3 de sevruga, 15% a menos que em 2005. A Rússia, que perdeu há tempo para o Irã o posto de paraíso do caviar devido à pesca furtiva, poderá exportar 23,5 toneladas. Por enquanto, fica fora a espécie mais cara de todas, o caviar beluga. "Os países do Cáspio não apresentaram a informação estatística necessária", explicou o secretário-geral da Cites, Willem Wijnstekers. Porém o órgão ainda não deu a última palavra sobre o beluga e ainda pode anunciar cotas para a sua exportação - se os países produtores apresentarem dados sobre o censo de esturjões.
Risco de extinção
Os cinco países banhados pelo Mar Cáspio também se comprometeram a reduzir as capturas em 20%. A concessão, sem dúvida, facilitou o caminho para que a ONU levantasse a proibição. A Cites proibiu, há um ano, a exportação de caviar do Cáspio. O objetivo era evitar o excesso de pesca e facilitar a reprodução do esturjão, espécie que corre risco de extinção.
A única exceção foi o Irã. O país pôde exportar em 2006 quase 45 toneladas de caviar de esturjão persa, que não é um dos mais procurados. Os outros quatro países só puderam extrair as cobiçadas ovas para o consumo interno. A medida disparou os preços do caviar, especialmente das ovas acinzentadas do beluga. "A proibição contribuiu para melhorar os programas de controle, mas será preciso esperar décadas até podermos falar com segurança que a espécie está fora de perigo e liberarmos a pesca", disse Wijnstekers.
O chefe da Cites pediu que os países importadores "estabeleçam um controle rigoroso para impedir o acesso de caviar negro por contrabando". Já o cientista chefe da Convenção, David Morgan, lembrou que "a população de esturjão diminuiu 90% no último século". A Rússia produzia, no início da década de 80, mais de mil toneladas de caviar negro, 20 vezes mais que hoje. Além disso, pescava 30 mil toneladas de esturjão, enquanto hoje não passa de mil.
Segundo os especialistas, a pesca clandestina não é uma novidade. Mas a prática atingiu volumes industriais em 1991, com a desintegração da União Soviética. Apareceram então novos exportadores de caviar e a KGB (serviço secreto soviético) vendeu a tecnologia de produção. Para fortalecer o controle e evitar a extinção do esturjão, a Cites estabeleceu então ano um sistema de cotas anuais. Mas a medida não impediu a comercialização no mercado negro, que os especialistas avaliam em 100 toneladas, praticamente o mesmo volume que o da venda autorizada.
O esturjão, que pode chegar a pesar uma tonelada, necessita, em algumas ocasiões, de até 25 anos para alcançar a maturidade sexual. Algumas espécies só se reproduzem a cada três ou quatro anos, o que aumenta o seu risco de extinção. Quando o aiatolá Khomeini assumiu o poder no Irã, em 1979, proibiu o consumo de esturjão e de suas ovas, que considerou "impuras". O Corão aparentemente não permite comer peixes sem escamas.
Segundo os especialistas em gastronomia, o caviar não deve ser comido sozinho em colheradas. O certo é passar um bocado sobre uma fatia de pão com manteiga. Também pode ser utilizado como guarnição em pratos quentes. Nos últimos anos, devido à escassez do caviar negro, o vermelho ficou mais popular. A variedade é extraída do salmão, que desova nos rios siberianos, especialmente no Amur, fronteira natural entre Rússia e China.
(Efe, 06/01/2007)
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