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2007-01-08
A mata atlântica, o bioma mais destruído do país desde a colonização, tem 27,1% de remanescentes, diz estudo feito a pedido do MMA (Ministério do Meio Ambiente) por um trio de pesquisadores. Esse número, ao mesmo tempo que soa bem positivo, é tão surpreendente que até os autores do trabalho estão cautelosos com ele.

"Fui dormir com quase 7% e acordei com os 22,44% [de remanescentes exclusivamente florestais, os 4,66% restantes estão em áreas de manguezal e restinga principalmente]. Também fiquei surpreso", disse à Folha o geógrafo Raúl Vicens, da UFF (Universidade Federal Fluminense), um dos autores do trabalho que será entregue ao MMA em março.

"Esse é um número que ainda tem de ser validado. Até é possível que ele caia, mas nunca será tirada toda a diferença para aquilo que já se sabia." Os 7% a que o pesquisador se refere -na verdade 6,98%-, são o número mais conhecido e declamado do que ainda resta do bioma. Ele foi apresentado em dezembro pela SOS Mata Atlântica. A ONG paulista, em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), faz desde os anos 1990 um estudo sistemático, de cinco em cinco anos, dos remanescentes da floresta. O primeiro índice, de 1990, foi de 8,8%.

"Também estou surpresa. Nunca, nos nossos levantamentos, tivemos índices parecidos. Vamos aguardar a publicação dos mapas para saber mais detalhes", disse Marcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento da ONG.

Além da questão da validação dos pontos usados no mapeamento, que deverá ser feito pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) -na prática será visto se o que está no papel bate com o campo-, Vicens levanta outro dois pontos que podem explicar essa grande diferença.

"A primeira questão é a base de dados usada nos dois trabalhos. Nós usamos o Mapa dos Biomas Brasileiros de 2004, enquanto a SOS utiliza o Mapa de Vegetação do IBGE, elaborado em 1993." A outra explicação é de cunho conceitual.

Para o estudo que está sendo concluído agora, florestas secundárias em estado avançado de regeneração entraram no cálculo, o que não ocorre nas análises da SOS. "Não temos como saber ainda o quanto isso influenciou. Os dados serão apresentados e espero que ele seja validado, inclusive, pelos pesquisadores que já trabalham com isso", afirma Vicens.

Para Hirota, outras diferenças também são importantes. O novo mapa usa uma escala de 1 para 250 mil e não considera áreas menores que 40 hectares. A malha da SOS é mais fechada. Ela usa imagens de 1 para 50 mil e leva em consideração áreas a partir dos 5 hectares.

"Não podemos falar que a mata atlântica cresceu. O mais provável é que a taxa de desmatamento tenha caído, pelo menos em alguns lugares, como no Rio de Janeiro. Além disso, áreas em regeneração podem ter ocupado mais espaço nos últimos anos", explica Vicens.

Para a representante da SOS, incorporar áreas já bastante degradadas como remanescentes só faria sentido se junto com isso existisse uma política de governo para realmente recuperar as áreas em questão.
(Por Eduardo Gerarque, Folha de São Paulo, 6/1/2007)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0601200701.htm

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