Muita gente daria tudo para se livrar daquele morador da casa ao lado que ouve música alta e inferniza o seu sono. A dona-de-casa Leila de Fátima Weiss de Oliveira, 33 anos, tem um vizinho bem silencioso. Mas, ela é uma das santa-marienses que não dormem mais direito, preocupada com o que ele anda aprontando. Leila mora ao lado de uma antena de telefonia celular. Como várias outras pessoas - vizinhas de uma das 56 antenas que existem em Santa Maria -, ela tem medo das conseqüências da radiação do equipamento para a saúde.
- Concordamos com a instalação da antena, mas estamos arrependidos. Os raios que caem na antena estão trincando as paredes da casa e a calçada. Mas a parede ainda se conserta. Nosso maior medo é aparecerem problemas de saúde. Todo mundo na vizinhança vive com dor de cabeça desde o equipamento foi construído - conta Leila.
A preocupação dos moradores da Rua Sargento Elpídio Barbosa, no bairro Salgado Filho, ficou ainda maior quando a aposentada Terezinha de Jesus Oliveira Dias, 67 anos, teve, há cerca de dois anos, deslocamento da retina e glaucoma. A família teme que a antena tenha sido a vilã da história.
A polêmica sobre as Estações de Rádio Base (ERBs), mais conhecidas como antenas de celular, fica maior porque faltam estudos conclusivos sobre os efeitos da radiação emitida pelos equipamentos. Alguns estudos apontam que eles emitem uma radiação que poderia causar diversos problemas para a saúde. Ela seria irradiada porque as estações recebem e emitem ondas eletromagnéticas para celulares. Entre os problemas, estariam o aquecimento das células do corpo e das próteses e a interferência no uso do marca-passo, além de câncer, catarata e dores de cabeça.
Por outro lado, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) tem uma legislação que determina a potência máxima que as antenas podem ter. Segundo a Anatel, se essa intensidade não for ultrapassada, não haveria problemas. A Associação Nacional das Operadoras Celulares também afirma que não há evidência de que os sinais dos equipamentos causem prejuízo à saúde.
Poucos médicos falam sobre o tema
As reclamações sobre as antenas têm sido tantas que o Ministério Público realizou uma audiência na semana passada. Os vereadores fizeram o mesmo.
- O corpo humano é composto por sal e água, é um condutor. A radiação faz com que circule corrente elétrica no corpo e a temperatura aumente em, pelo menos 1°C. Isso significa que o corpo vive em estado de febre. Ninguém sabe a longo prazo o que isso poderá causar - diz o professor de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Santa Maria Félix Farret.
O Diário procurou vários médicos para saber opiniões sobre o tema. Mas quase todos argumentam que ainda é cedo para se posicionar. O oftalmologista Alexandre Rossi diz que não há risco aos olhos a partir da radiação de celulares.
Linha Cruzada
Opinião de quem vive com o problema
"Não podemos exigir das operadoras mais do que a lei determina. Mas devemos exigir delas que cumpram o que a lei estabelece." João Marcos Adede Y Castro, promotor
"O que estamos querendo é aumentar o grau de proteção das pessoas. Porto Alegre e Campinas já regulamentaram o assunto. Ninguém é contra a tecnologia. Mas ela não deve trazer prejuízos ao ambiente." Tarso Isaia, chefe do escritório do Ibama em Santa Maria
"Ninguém se submete à radiação e escapa dela sem sofrer os seus efeitos. Tenho em mãos artigos científicos que falam coisas horríveis sobre as antenas." Felix Farret, professor de Engenharia da UFSM
"Tenho um filho com 3 anos e não quero vê-lo com doenças por causa das antenas." Elenise Antunes, moradora do bairro Dores
"Vivi oito anos na Europa, onde a telefonia é muito boa e funciona para valer. Por lá não se vê uma antena sequer dentro da cidade. Ninguém é contra a tecnologia, mas tudo deve ter seus limites." Irmã Rosequiel Fábero
"Nunca estragou nada aqui em casa nem nós tivemos qualquer tipo de problema de saúde relacionado à antena." Dilon da Silva, morador do bairro Salgado Filho
"Aqui em casa eu só me preocupo porque interfere na imagem da televisão." Vilmar Firmino, morador do bairro Salgado Filho
Atenção também ao telefone celular
No caso do celular, segundo o professor do curso de Engenharia da UFSM Félix Farret, para mandar mensagens ou telefonar, a radiação é mais forte do que a da antena. Para diminuir problemas que podem afetar a saúde, ele dá algumas dicas (veja abaixo)
Alô, saúde
Usar o celular a 2,5 centímetros do ouvido, para que o aparelho se distancie do olho e a radiação não afete a retina Para evitar problemas cardíacos, quem usa marcapasso deve falar ao telefone do lado oposto ao que o aparelho foi instalado Usar fones de ouvido ou a função viva-voz são uma boa alternativa para distanciar o aparelho dos olhos Evite deixar que crianças falem ao celular, porque elas ainda estão em fase de formação e não há conclusões sobre os efeitos no crescimento A tendência é que quanto mais antigo o celular, mais radiação ele ofereça, porque para se adequar às legislações as operadoras tiveram de modificar os aparelhos
(Por Marilice Daronco,
Diário de Santa Maria , 05/01/2007)